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Austeridade, com efeitos fiscais e também fatais

11 de junho de 2013
 
Por Clive Cookson | Financial Times
 
A austeridade mata - e em grande escala. É o que argumentam David Stuckler e Sanjay Basu em "The Body Economic", um poderoso ataque aos esforços destinados a refrear os gastos públicos desde a crise financeira, que aponta políticos defensores de apertos de cintos como responsáveis por uma catástrofe na área da saúde.
 
Stuckler, economista político de Oxford, e Basu, médico epidemiologista da Universidade de Stanford, colaboram há mais de uma década na esfera dos efeitos da recessão e da depressão sobre a saúde pública. Já exploraram um rico veio de dados sobre os efeitos da crise de 1929 ao longo da década de 1930, bem como das crises da década de 1990 na União Soviética e na Ásia, na época em que começaram a trabalhar sobre o que denominam a Grande Recessão.
 
Sua análise histórica oferece um pano de fundo fascinante para os acontecimentos mais recentes. Aparentemente, a Grande Depressão foi boa para a saúde dos americanos. As taxas de mortalidade caíram cerca de 10%, com um recuo especialmente significativo no período em que a renda da população sofreu sua queda mais acelerada, de 1929 a 1933. O principal fator de curto prazo foi a grande queda das vítimas fatais de acidentes de trânsito, uma vez que a falta de dinheiro expulsou muitos motoristas das estradas. O recuo foi replicado - de forma um pouco mais fraca - oito décadas depois, na atual recessão.
 
Stuckler e Basu também defendem ideias interessantes sobre o papel do álcool durante a Grande Depressão. A Lei Seca ficou em vigor nos Estados Unidos até 1933 e, embora a fiscalização não fosse uniforme em termos de eficácia, os autores calculam que foram evitadas 4 mil mortes - e que se teriam evitado 7,3 mil se a lei tivesse sido rigorosamente aplicada em todo o país. ("Não que estejamos defendendo uma volta à Lei Seca. Estamos apenas tirando uma lição dela", acrescentam.)
 
A conclusão mais importante sobre a Grande Depressão nos Estados Unidos diz respeito ao impacto das diferentes reações sobre a saúde. Os habitantes de Estados como a Luisiana, que abraçaram com entusiasmo o New Deal de Roosevelt e gastaram quantias significativas em saúde pública e programas sociais, tiveram quedas maiores na incidência de doenças contagiosas, mortalidade infantil e suicídios do que os moradores de Estados como a Geórgia, que relutaram em fazer esse investimento.
 
"O que a Grande Depressão nos mostra é que mesmo a pior catástrofe econômica não tem necessariamente de causar problemas na saúde das pessoas, se os políticos tomarem as medidas certas", escrevem Stuckler e Basu. Enfocam em seguida uma série de estudos de caso, contrastando o que encaram como reações boas (o estímulo) e ruins (a austeridade) a crises financeiras.
 
Na década de 1990, o rápido programa de privatização da Rússia e a demolição das redes de segurança social da era soviética geraram uma catastrófica onda de mortes e doenças, principalmente na população masculina, enquanto a transição mais branda da vizinha Belarus mantinha os níveis de saúde pública.
 
A mais impressionante comparação contemporânea é a feita entre Islândia e Grécia. Entre os gregos, submetidos a uma dieta forçada de rígida austeridade, não apenas se verificou um aumento de suicídios e casos de doenças psiquiátricas como também houve um ressurgimento de doenças infecciosas, como a incidência do HIV e até malária. A Islândia, que adotou um enfoque menos austero, conseguiu defender a saúde e os programas sociais - e evitou qualquer aumento na incidência de doenças.
 
"The Body Economic" não é um livro inteiramente bem-sucedido. É insuficiente sua análise das diferenças culturais, sociais e econômicas que justifiquem a ilação de que a Grécia, digamos, poderia, na verdade, ter optado pelo caminho islandês e saído mais saudável do que saiu. O tom é às vezes irritantemente de jactância e superioridade moral. E os autores não conseguem defender apropriadamente seu ponto de vista de que o estímulo deve sempre ser o melhor caminho por motivos não só econômicos como também médicos.
 
Mas, ao contar as histórias de vítimas individuais da austeridade, além de analisar seu impacto sobre a população, Stucker e Basu oferecem uma profusão de provas de que ela é ruim para nossa saúde. Essa é uma contribuição valiosa para a atual discussão.
 
"The Body Economic"
 
David Stuckler e Sanjay Basu. Editora: Allen Lane. 240 págs., US$ 26,99
 
Fonte: Valor Econômico


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