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O impacto do ’efeito Angelina’

15 de maio de 2013
 
Declaração de estrela de Hollywood, que anunciou ter removido os seios para se prevenir do câncer, desperta dúvidas entre mulheres de todo o mundo. Cirurgia tem indicação restrita e exige exame não coberto pelo SUS
 
Junia Oliveira
 
Uma decisão drástica tomada por uma das artistas mais bem pagas e admiradas de Hollywood fez ontem mulheres do mundo inteiro voltarem os olhos para o próprio corpo, com um sentimento misto de surpresa, curiosidade e preocupação. Apesar de ter atraído a atenção de meios de comunicação de todo o planeta, a cirurgia de remoção total dos seios como medida de prevenção ao câncer de mama, anunciada pela atriz Angelina Jolie, está longe de ser modismo de uma estrela de cinema, nada tem de estética, muito menos pode ser feita à revelia. O procedimento é indicado em casos específicos, para uma parcela rara de mulheres com chance altíssima de incidência de tumor, de caráter hereditário, em decorrência de uma mutação genética. Mesmo entre as pacientes que se encaixam nesse grupo de risco, nem todas têm acesso à opção de Angelina: no Brasil, é preciso ter plano de saúde ou recursos para bancar o diagnóstico, uma vez que o Sistema Único de Saúde (SUS) só cobre mastectomia depois de identificada a doença e não contempla um dos principais exames para detecção do problema, que custa em média R$ 8 mil.
 
E os médicos alertam: não é qualquer caso de câncer na família que leva à indicação de retirada das mamas. De acordo com o Ministério da Saúde, esse é o segundo tipo de tumor mais frequente entre as mulheres, respondendo por 22% dos novos casos. Mas o câncer de mama hereditário (quando uma ou mais parentes de primeiro grau, como mães e irmãs, têm a enfermidade) acomete apenas 10% do total – cerca de 5 mil pacientes por ano no Brasil.
 
O oncologista André Márcio Murad, pesquisador do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron), conta que a indicação da mastectomia preventiva ocorre em três situações. A primeira indicação é para mulheres que tenham a mutação dos genes BRCA-1 e 2 – hipótese em que se encaixa o caso da atriz norte-americana. Esses genes são responsáveis pela autorreparação do DNA das células, quando sofrem agressões por toxina ou má alimentação. Quando ocorre alguma transformação, a capacidade de reparação é afetada e o organismo torna-se predisposto à doença. Esse é o tipo de problema que pode ser detectado pelo exame não coberto pelo SUS.
 
O teste é pedido em casos de suspeita de síndrome genética, que também é o segundo fator para indicação da cirurgia: muitos casos na família de câncer de mama (feminino ou masculino), ovário, próstata e pâncreas e, principalmente, se eles acometem pacientes com idade abaixo de 50 anos. O terceiro critério é a chamada bilateralidade, quando a paciente tem a doença nas duas mamas ou nos dois ovários.
 
Diante desse quadro, explica o médico, o paciente tem 80% de risco de ter, em algum momento da vida, câncer de mama, índice que é de 50% para que o mal se manifeste no ovário. “Nesse caso, vale a pena instituir medidas preventivas, que variam de acompanhamento com exames periódicos ao uso de medicamentos”, afirma.
 
O presidente da Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Mastologia, João Henrique Penna Reis, acrescenta que, mesmo quando feito na rede particular, o exame para constatação da mutação no gene BRCA tem uma série de exigências. Ele alerta: “As pessoas não devem sair correndo atrás do teste, que é de indicação restrita e vai beneficiar um número pequeno de pessoas”. A mulher só se submete a ele depois de avaliação com geneticista e psicólogo, que vão identificar, inclusive, a capacidade do paciente para lidar com os resultados.
 
O especialista conta que a parte cara do teste é fazer o sequenciamento dos genes para identificar a mutação. Na primeira etapa do exame, é avaliado um parente que teve câncer. Se identificada a mutação, a paciente com suspeita da doença também tem os genes analisados, procedimento que custa entre R$ 400 e R$ 500.
 
Nesses casos radicais, os dois médicos são unânimes na defesa da retirada dos ovários, em vez das mamas, pois o câncer nessas estruturas tem diagnóstico mais difícil e é mais agressivo. “Com a mastectomia, reduz-se em 90% a chance de ter câncer de mama. Já a retirada dos ovários reduz apenas em 60% a chance de doença nas mamas, mas em 90% a probabilidade de ela se manifestar no ovário”, diz André Murad.
 
VIDA NOVA A empresária Silvana Hamade, de 50 anos, vive a milhares de quilômetros da atriz Angelina Jolie, mas sabe como ela deve estar se sentindo. Silvana fez a mastectomia há oito meses, como forma de se prevenir contra a doença que na família acometeu tias e a irmã. A mãe dela também passou pelo procedimento, há quatro meses.
 
Com o histórico familiar, há um ano, em uma consulta com a mastologista, a empresária se viu diante de duas opções: fazer exames a cada seis meses ou a cirurgia radical. A decisão não demorou. “Eu ia ficar de seis em seis meses procurando um câncer, tensa, esperando resultado pelo resto da minha vida. E, se acontecesse, teria de tirar a mama, sem contar a rádio e a quimioterapia”, conta. “É uma mistura de coragem, por fazer, e covardia, por não querer ficar doente”, diz. Silvana fez o procedimento com um cirurgião plástico e já saiu do consultório com a prótese de silicone.
 
Depois do susto, autoestima recuperada. “Não fico pensando que não tenho mais seio, até porque nunca me vi sem mama. Fiquei com o seio do tamanho que era e, se eu não falar, ninguém nota”, afirma. Para a empresária, racionalidade foi fundamental: “Eu pude escolher o jeito que queria, a hora que quisesse. Tive todas as opções, o que, quando você está com câncer, não tem. Você começa a correr atrás do tempo. E eu queria ter o tempo para mim”.
 
Fonte: Estado de Minas


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