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Labirintos da mente

03 de março de 2013
 
fpinheirojornalista.wordpress.com/Reprodução da internet
 
No mundo, 450 milhões de pessoas enfrentarão doenças mentais ao longo da vida. Abordaremos o problema em uma série de três matérias. Na estreia, a ênfase é no transtorno borderline
 
Por Gláucia Chaves
 
Aos 18 anos, Bruna Franco passou a se sentir acuada em multidões. Diagnosticada com síndrome do pânico, a moça começou a fazer terapia. Hoje, aos 29, a estudante de psicologia ganhou mais um nome que a medicina cunhou para definir sua personalidade: transtorno borderline. "Eu não sabia o que era, mas como já havia recebido outros diagnósticos antes, como depressão, pensei que era só mais um nome." Bruna não está sozinha. Assim como ela, cerca de 9% da população brasileira têm algum tipo de doença mental, de acordo com dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Crianças também não estão livres dos problemas da mente: quase 12,6% delas apresentam sintomas.
 
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% da população adolescente e infantil do mundo terá algum problema mental. A depressão, doença atribuída por muitos à moderna rotina individualista e competitiva, está entre as mais presentes nos consultórios - e na vida - dos brasileiros. Ainda de acordo com a ABP, 10% da nação sofrem de tristeza crônica. A OMS contabiliza 154 milhões de deprimidos. A previsão do órgão é de que 450 milhões manifestarão algum problema mental, neurológico ou comportamental ao longo da vida. Em uma série de três reportagens, a Revista vai explorar um pouco do bastante estudado - porém, sempre intrigante - universo das doenças mentais.
 
Tanta gente enclausurada em sua própria mente adoecida preocupa médicos, familiares e, principalmente, os doentes. Além de ter que se acostumar a policiar os próprios pensamentos e atos, o paciente encontra informações dúbias e, muitas vezes, errôneas. Bruna Franco, por exemplo, foi diagnosticada borderline aos 25 anos. À época, ela não fazia ideia do que a palavra significava. Uma pesquisa rápida foi o suficiente para deixá-la horrorizada. "As primeiras matérias e estudos científicos que vi, em sites brasileiros, foram desanimadores e, de certa forma, assustadores pelo fato de descreverem o indivíduo borderline como um monstro sem coração", descreve.
 
A noção de que o paciente borderline seria apenas "um sujeito emocionalmente instável que, com tratamento, poderia se recuperar totalmente" só se deu após mais horas e horas de buscas em sites especializados. Depois de algum tempo, Bruna resolveu repassar os conhecimentos que tinha e ajudar, com os próprios depoimentos, borders que se sentiam tão perdidos quanto ela. Criado e alimentado por ela e uma amiga (que não revela a identidade), o portal no YouTube Quebre o Silêncio já contabiliza 996 inscritos e quase 160 mil visualizações. A troca de informações na internet, a terapia constante e o treinamento pessoal foram a base necessária para Bruna se compreender. "Acho que é difícil para qualquer um olhar para si mesmo e admitir falhas e limitações", acrescenta. "Aprendi a separar o que era minha responsabilidade e o que não era."
 
Bruna entendeu que a forma com que lida com a própria família, que considera "disfuncional, sem espaço para defeitos ou falhas", bem como a relação que tinha com os namorados, marcada quase sempre por cobranças irreais e críticas ferrenhas, tinha solução. "Era muito difícil, eu era muito crítica comigo e, consequentemente, com eles também", descreve. "Havia um grande medo da rejeição, de não saber lidar com a dor da perda." A incompreensão dos parentes e amigos reforça o medo de ser abandonado vivido pelos que sofrem de doenças mentais. No caso de Bruna, frases como "ela só quer chamar a atenção" ou "é falta do que fazer" eram frequentes. "Muitas pessoas acabam culpando um indivíduo por não suportar a sua própria dor", diz a jovem.
 
Entrevista//Ana Beatriz Barbosa Silva Médica-psiquiatra e autora de Mentes inquietas (2003), Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado (2008) e outros livros sobre transtornos de personalidade. Seu último livro, Corações descontrolados: ciúmes, raiva, impulsividade - o jeito borderline de ser, foi lançado em 2012. O que são os transtornos de personalidade?
 
Os transtornos de personalidade são alterações que, de uma certa maneira, todo mundo sabe o que é. Dizemos que "fulano tem personalidade impulsiva", leigamente sabemos que é a maneira que ela se apresenta. Nos últimos anos, a medicina do comportamento e a evolução da neuroimagem mostraram que há padrões de personalidade disfuncionais, que é o caso da psicose, do borderline, da pessoa possessiva. São maneiras de ser. É importante que a gente veja pelo lado da disfuncionalidade para que elas (as pessoas) possam melhorar. O borderline, por exemplo, é difícil de ser diagnosticado porque é uma personalidade complexa. Geralmente, descobrimos pela consequências - tentativa de suicídio, depressão etc.
 
Já há como pensar em uma cura para os transtornos de comportamento?
 
Não existe o termo "cura" quando se fala nesses problemas. Não existe cérebro perfeito. Todos nós podemos ter noção exata do que é ter algumas dessas doenças, como o borderline. Quando estamos apaixonados, ficamos parecidos com eles, eventualmente alterados, querendo saber onde a pessoa está. Quando falamos em transtornos, que é o jeito da pessoa, não falamos em cura, mas em ajuste. O tratamento é a reconstrução do equilíbrio. Não dá para ser 100% emoção ou razão. O mais importante no tratamento é a psicoterapia, que visa fazer a pessoa entender que amar não é grudar no outro, ser um anexo, por exemplo.
 
Por que algumas pessoas com transtornos mentais apresentam comportamentos destrutivos, como a automutilação?
 
As pessoas acham que elas fazem isso para se mostrar, mas quem se corta, esconde. São os adolescentes que vão à praia e se escondem, por exemplo. O que sabemos é que a automutilação provoca no organismo estresse agudo, o organismo libera endorfina para proteção, para anestesiar. Eles querem esse anestesiamento. Ataques de raiva também liberam endorfina - é para aliviar a dor.
 
Entenda as diferenças
 
Transtornos de humor ou afetivos
 
São aqueles em que há a variação de humor, pensamento, comportamento e ânimo. O paciente pode ter uma única crise ou várias ao longo da vida. Os episódios podem ser depressivos, em que a pessoa sente desânimo e tristeza em demasia, ou de mania, em que há euforia fora do comum. Os sintomas podem ainda ser uma mistura desses dois: são os estados mistos.
 
Exemplos: depressão, transtorno do humor bipolar, euforias e transtorno distímico.
 
Transtornos de personalidade
 
São transtornos que aparecem quando os traços da personalidade são desajustados, inflexíveis e prejudicam a adaptação do paciente. Não raro, causam sofrimento intenso ao doente e, principalmente, às pessoas ao redor. Como os danos a si próprio podem não ser tão perceptíveis para o paciente, não é incomum que não queiram tratamento. Aparecem em grande maioria no início da idade adulta, são crônicos e precisam de tratamento pela vida inteira.
 
Exemplos: transtorno de personalidade paranoide, transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade narcisista e transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo.
 
Fonte: Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos
 
Fonte: Correio Braziliense


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