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2013 - 27 - 658 - DOMINGUEIRA - FILAS NA SAÚDE

1.PRIMEIRA PÁGINA – TEXTOS DE GILSON CARVALHO
 
SAÚDE E OS PRIMEIROS 30 DIAS DOS GOVERNOS MUNICIPAIS
 
Gílson Carvalho
 
No Brasil existe desde a CF 88 um SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, de direito, legal, com garantia constitucional do tudo para todos. Lamentavelmente a realidade está ainda longe de ser esta pois, existe a distância entre o que está escrito e o que acontece.  Temos um SUS real com problemas de qualidade e quantidade. De insuficiência e de ineficiência. Clamando por  justiça social. A população está sofrendo em meio às velhas e carquilhadas endemias e às novas epidemias: obesidade, diabetes, acidentes (trânsito, trabalho, domésticos), violência, drogas incluindo álcool e fumo, etc.
 
Este quadro nacional é resultado de várias décadas de descaso com a questão social, muito especialmente a de saúde. Mesmo que a CF, com seus 24 anos de vida, tenha atingido mais que a maioridade, ainda engatinhamos na conquista universal do direito à vida e saúde. Melhoramos oPIB, mas ainda não como o necessário em quantidade nem em partilha. Mesmo ogoverno federal arrecadando impostos muito acima do % do PIB, permanece na posição cômoda de mandar no Congresso (ordem expressa de votar projeto de autoria do executivo!) e atrelar o financiamento da saúde ao crescimento do PIB e não da receita. Desfinanciamento certo visto e sentido. Os dados nos mostram uma realidade ruim de subfinanciamento federal. Contra dados poucos são os argumentos. Em 1995 o Governo Federal (Ministério da Saúde) gastou com saúde 11,72% da receita arrecadada. Hoje gasta cerca de 7%!!!  Igualmente, alguns dos estados brasileiros não colocam em saúde o mínimo constitucional de 12%. Já os municípios que acabam por não ter como se furtar, premidos pelas necessidade do cidadão e enredados nas realidades locais, acabam tendo que alocar mais de 30% que seu mínimo de 15%. No ano de 2011, último com dados disponíveis, os municípios gastaram com saúde mais de 20%.
Dentro desta situação de quase calamidade que estão chegando os novos governantes municipais. Muita necessidade e pequena perspectiva de saída. Por exemplo existe, em muitas prefeituras, neste início de mandato, um desabastecimento de medicamentos e outros insumos de saúde. Esta situação éconsequência de má gestão e falta de providências que deveriam ser tomadas com antecedência. A culpa da incompetência gerencial será sempre a Lei de Responsabilidade Fiscal que coloca justos limites para se fechar cada administração. Há limites e punições para a dívida e nenhum para o desabastecimento e falta de serviços de saúde!!!
 
As filas nos serviços de saúde, por exemplo, são um problema crônico e de extrema gravidade. Vidas ou anos de vida perdidos são muito dolorosos para os que sofrem, familiares e amigos. Já discutimos esta questão dissecadamente em vários textos. Agora se agravam as filas e a crítica a elas é geral desde as pessoas à mídia que a elas representa. E as causas são as mesmas : insuficiência e ineficiência. As novas administrações têm que resolver sua demanda reprimida, geradora de filas, e aquela que recebeu de herança de uma, duas, três, quatro administrações anteriores.  Nada que console ou que diminua o problema. Apenas o dever de enfrenta-los e encaminhar soluções tentando diminuir o sofrimento. Saúde no Brasil inteiro foi tema de campanha. Quem estava no governo desculpando-se, com ou sem razão e, quem pleiteava o governo, prometendo resolver o problema de imediato.
 
Não se esquecer que nada se resolve ou modifica nos primeiros trinta dias de governo. Existem passos que não podem ser superados sem cumprimento de prazos. O primeiro mês é de: mudança de primeiro e segundo escalão; conhecimento de situações resolvíveis ou não; conhecimento mais detalhado das necessidades pois uma fila de cirurgias precisa ser dissecadaantes do processo licitatório; seguimento do rito público de precificação e compras; acerto de detalhes executivos com os vencedores do certame etc. Nada disto se faz de imediato. A população tem que ter paciência pois uma demanda de milhares de procedimentos, alguns extremamente caros, não se resolve num estalar de dedos. Principalmente dentro do serviço público. Duro ter paciência no sofrimento e na dor, mas nenhum administrador público arriscaria fugir dos ritos legais, a menos se em estado de calamidade pública declarada.
 
Como milito em gestão pública de saúde já há algumas décadas conheço bem o problema e entendo a solução como de extrema complexidade. Não é um buraco que se tapa ou uma pista que se asfalta. É umburaco a ser tapado e que tende a afundar-se cada vez mais. Tem que existirpreparo técnico e competência para tapar o buraco e não deixar que, ao contrário, aumente. Pensar em resolver os problemas do passado e impedir que surjam os presentes.
 
Todas as pessoas e a mídia em geral sempre atenta, procuram mostrar os problemas de saúde, as filas que não se resolvem e a inevitável comparação com as promessas de campanha. As campanhas políticas, no mundo inteiro, são eivadas de boas intenções e promessas, nem sempre factíveis. Assim aconteceu com as promessas de resolver os problemas de saúde no calor da última disputa municipal. Não é simples. Agora arregaçar mangas e enfrentar.
 
Hoje os municípios na área de saúde enfrentam a Hidra de Lerna e suas sete cabeças que nem sempre se deixam mostrar: 1) receita diminuindo ou crescendo menos que o necessário; 2) falta de médicos por motivos salariais, condições de trabalho, limite constitucional até o salario dos prefeitos;3) falta de outros profissionais disponíveis no mercado, mas sem concursos  para atender aos limites da responsabilidade fiscal; 4) necessidade de investir em primeiros cuidados e a pressão para procedimentos de média e alta complexidade; 5) lentidão do processo administrativo, inadequado à realidade e aos métodos atuais; 6) imposição unilateral do Ministério da Saúde de uma política que pretende ser hegemônica e que, muitas vezes, está em descumprimento da CF e leis e inadequada a uma república federativa com autonomia constitucional de seus membros. 7) condicionamento do financiamento federal à adoção desta política e com o aval subalterno de quem jamais poderia dá-lo.
 
Esta hidra está consumindo o sistema de saúde e tirando perspectivas de mudanças jogando nós todos à mesmice de um governo federal e de uma equipe do Ministério da Saúde  que pretendeu levar à frente uma proposta de se cumprir a CF.
 
Existirão Hércules suficientes para matar a Hidra e suas sete cabeças?
 
2. SEGUNDA PÁGINA – TEXTO DE CONVIDADOS
 
FILA – UM DESAFIO!     Wanderson Prado Leite
 
Estou tentando entender os motivos de tantas filas para atendimento médico neste país.
Primeira pergunta que me fiz: Existem tantas filas em outros países? Ou já é uma cultura nacional?
Estas filas não são um privilégio do sistema público, pois temos filas nos serviços privados e também em grande parte dos consultórios particulares e quase sempre com horários atrasados.
Nos serviços de urgência e emergência dos planos de saúde também há filas.
Enfim, por que existem tantas filas? Nossa população está muito doente? Nossa população está hipocondríaca?  Faltam médicos? Nossos médicos são incompetentes?
Após 39 anos de exercício da medicina pública e privada, inclusive como ex-diretor de Unimed, ouso citar algumas prováveis causas tentando agrupá-las tais como: Sistema/Cliente/Medico.
O barco “saúde” vai mal porque os três remadores (Sistema/Cliente/Medico) não conseguem remar sincronizadamente.
Falar que o “Sistema de Saúde” está errado é a resposta mais fácil de se dar, pois em parte é verdade, mas acho que temos também que mudar o comportamento dos pacientes (clientes) e dos médicos.
Quanto à parcela de Responsabilidade do “Sistema” já sabemos que a verba é pequena, que existem desvios, que a nossa saúde é centrada na cura, que há um exagero de especialização e uma carência muito grande de clínicos gerais (para adultos e crianças). A Domingueira tem abordado constantemente os problemas do “Sistema”.
Em minha opinião, a saúde é um Direito do cidadão, uma Obrigação do Estado, mas também é uma “Responsabilidade do Cidadão”. Não podemos deixar que os pacientes terceirizem sua saúde aos profissionais da área.
Quanto à parcela de Responsabilidade dos Clientes, venho detectando muitas atitudes que colaboram com o excesso de filas e vou citar algumas sem uma ordem de importância.
1) A “Indústria da Doença” propaga pela mídia os milagres da tecnologia, os pacientes ouvem, acreditam e querem, ou até mesmo exigem procedimentos ou exames que, muitasvezes, não ha relação com o caso deles. Cria-se uma expectativa que gera demanda que pode gerar liminares que geram custos e problemas desnecessários. Tudo isto gera sofrimento, desagrado, irritação e filas!
2) Na rede pública de minha cidade (São José dos Campos - SP), e o mesmo deve ocorrer em outras cidades deste imenso país, 50% dos exames (laboratoriais e de imagem) não são sequer retirados das unidades. No centro de especialidades Estadual(AME) 48% dos clientes faltam às consultas. O mesmo cidadão que falta é o mesmo que se revolta porque não ha vagas para este ou aquele especialista. Sempre a culpa é do governo ou dos outros. Sei que parte destes faltosos desistiu daconsulta porque demorou muito e/ou porque teve seu problema resolvido espontaneamente ou por outras vias, mas não deixa de ser um “irresponsável” quando não comparece e NÃO avisa com antecedência, a unidade sobre a sua desistência.
3) Os pacientes, pela deformada cultura americanizada, só querem especialistas e eles procuram a especialidade conforme o entendimento deles próprios, gerando consultas desnecessárias e aumentando as filas.
4) Grande parte dos clientes vão e voltam ao médico sem as receitas e exames anteriores e não sabem os nomes nem as dosagens ou número de dias de uso dos medicamentos, como se isto fosse uma obrigação do sistema ou do médico.
6) Há um total desconhecimento dos cuidados mais básicos e simples sobre saúde por parte da população. Às vezes, fazem automedicação perigosa e,   por outro lado,  deixam de fazer ou fazem de maneira incorreta ou até contra indicada. Ha necessidade de uma "democratização dos conhecimentos sobre saúde e doenças".
7) Temos um excesso de agendamento para controle de doenças que não necessitam de controle tão freqüente. Exemplos? Puericultura mensal durante todo o primeiro ano de vida, controle de colesterol, TSH e outros a cada 2 ou 3 meses, etc.
8) As creches públicas, pelo menos neste município, têm gerado um grande volume de atendimentos desnecessários quando a mais insignificante manifestação de desconforto de uma criança gera um chamado dos pais para que a criança sejalevada ao médico, criando uma demanda desnecessária e problemas para os paisque estão trabalhando.
9) Outra grande causa de fila por parte dos pacientes, talvez uma das maiores, é a doença chamada “atestadite aguda e subaguda”. Segundo opinião dos colegas clínicos que atendem em UPA ou Pronto Socorro chega a 40% dos atendimentos.Problema sério e um grande desafio a ser resolvido pelos serviços de saúde,empresas, sindicatos e CLT. (merece um artigo especial).
O povo está sofrido, a saúde pública é de má qualidade, mas existem, talvez por motivos populistas e eleitoreiros, razões que impedem os governantes de tomarem atitudes para aumentar o Senso de Responsabilidade dos cidadãos quanto a sua própria saúde.
Quanto à parcela de Responsabilidade do Médico gostaria de comentar algumas que notei no serviço público e no privado. Sei que é um terreno minado, quase todos concordamos, entretanto temos receio de comentar publicamente.
Uma coisa é certa, quase todas as falhas do Sistema e ou do Cliente acabam recaindo sobre o Médico.
Exemplo recente foi o episódio da falta do neurocirurgião ao plantão.  A imprensa e consequentemente a opinião pública parece relevar a falta de segurança pública (gerada principalmente pela impunidade), quem atirou na vítima, a gravidade da lesão, a possível inoperabilidade do caso, etc. A culpa é do médico!
1) O poder de resolução dos médicos está cada vez menor, sua formação faz com que ele entenda cada vez mais de sua especialidade e cada vez menos do paciente com um todo. Para mim, este problema já vem sendo causado pelo distorcido currículo do curso de medicina.
Tanto nos serviços públicos como de medicina privada, parte dos problemas poderia ser resolvido pelo médico, mas que por desconhecimento, ou impedimento, ou preguiça, ou simplesmente por omissão, deixa de ser feito. Às vezes ele atétenta resolver, mas o “sistema” dificulta ou impede quando ele, por exemplo, fica proibido de solicitar algum exame que esteja fora do rol da unidade que ele trabalha ou porque não poderá fazer um retorno do cliente numa outra data e ele simplesmente encaminha a outro colega.
2) Outra causadora de fila é a recomendação do médico de plantão: “O Sr tem que procurar um especialista” quando muitas vezes ele próprio ou o clinico geral (adulto ou pediátrico) da UBS poderia tratar o problema.
3) Na maioria dos serviços de urgência o atendimento é executado por médicos menos experientes, ou por especialistas com cada dia menos conhecimentos de clinica geral. Os clínicos e cirurgiões que atendem em serviços de urgência deveriam ser os mais experientes e melhores remunerados, mas a “indústria da doença” não concorda.   
4) Tem havido por nossa parte, uma neurose por processos de má pratica, quando na realidade eles ocorrem muito mais pela falta de um bom relacionamento médico-paciente, ou quando o médico demonstra desinteresse ou negligência.
Frequentemente ouvimos por parte de nós médicos que o serviço está insuportável, que há clientes demais, mas não podemos deixar de reconhecer que parte desta demanda se deve ao nosso próprio comportamento quando não fazemos uma anamnese e exame clínico completos, uma explicação detalhada de como fazer o tratamento, dosefeitos colaterais dos medicamentos e da evolução da doença, etc.
Se há carência de profissionais nas unidades básicas o “sistema” tem que resolver. Mas quando somos procurados pelos clientes, mesmo em pronto socorro, nosso juramento de Hipocrates, nosso código de ética e, sobretudo, nossa consciência exigem que façamos o melhor para aliviar o sofrimento dos que nos procuram.
“Nenhum floco de neve se julga culpado da avalanche que provocou” Autor desconhecido
Wanderson Prado Leite   cremesp 25.001 (SP)    leite.wanderson@yahoo.com.br
 
3. TERCEIRA PÁGINA – NOTÍCIAS
3.1  Proposta de prefeitos para saúde divide entidades – Brasil Econômico - 29–1-2013
 
Rafael Abrantes
 
Governo contrataria médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior para o SUS
uma proposta que tentaria diminuir as dificuldades das Prefeituras do país com a administração da Saúde pode colocar em lados opostos duas entre as principais entidades representativas dos municípios brasileiros.
Em reunião paralela ao Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, iniciado ontem em Brasília, os presidentes da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), João Coser, e da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, voltaram a debater com secreta rios do Ministério da Saúde"soluções imediatas" para a amplia cão do quadro de médicos no serviço público de saúde das cidades do interior brasileiro a partir da contratação de médicos estrangeiros preferencial mente de língua latina e brasileiros formados fora do país.
Segundo a FNP, a quantidade atual de médicos não é suficiente para a demanda por atendimentos nos 5.570 municípios brasileiros, e abaixo da taxa mínima exigida pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 2,7 profissionais para cada mil habitantes. O índice nacional é de 1,8 médicos/mil habitantes. Este número chega a 0,58 em algumas cidades no interior do Maranhão. A carência total no pais se ria de 168 mil médicos, de acordo com a FNP.
O encontro não teve a participação do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, devido ao seu deslocamento para acompanhar os trabalhos de apoio às famílias de vítimas e feridos no incêndio em casa noturna de Santa Maria (RS). O secretário de gestão estratégica do ministério, Luiz Odorico Monteiro, ouviu a reclamação dos prefeitos.
"O programa é bom, mas é apenas uma pequena solução para a área da saúde", afirmou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. Embora a confederação concorde em abrir o mercado doméstico para a atuação de médicos de outras nacionalidades, ele ressalta que a alta concentração de receitas pela União e a má gestão da saúde pelas Prefeituras são as reais causas dos problemas de caixa municipais. "Os municípios não têm dinheiro para contratar. Os prefeitos devem rever seus pro gramas atuais antes de aderir a outros e (depois) cair na Ficha Suja", afirma ZiulKoski, referiu do-se à fiscalização posterior das contas públicas. As Prefeituras gastam, em média, 22% de seu orçamento com saúde. "É um problema federativo", completa ele. "E se (a proposta) for (discutir) apenas isso, nós não assinaremos".
 
O plantonista sumiu!  Globo 21-1-2013
 
LIGIA BAHIA
 
Tropeça-se a cada passo em relatos de pessoas desassistidas pelos serviços de saúde. Mas encontrar os responsáveis pela omissão de socorro ou imprudência, imperícia ou negligência, especialmente no Brasil, constitui um fato extraordinário. A principal razão da dissociação entre a frequência dos danos causados a crianças e adultos por instituições que deveriam proteger-lhes e o indiciamento de quem os causou é a finitude da vida. Separar acertos e erros da intervenção médica em casos de sucessos e desfechos indesejados requer um sólido conhecimento sobre as possibilidades e limites do repertório de alternativas diagnósticas e terapêuticas e muita ênfase na qualidade da atenção. A avaliação permanente da qualidade das atividades da saúde é a ferramenta adequada para distinguir e afirmar boas práticas, que por sua vez pressupõem compromissos e responsabilidades explícitas pelas ações e cuidados prestados. Os esforços para organizar um sistema de avaliação de qualidade pressupõem a perspectiva de atingir crescentes níveis de saúde e melhoria do desempenho dos serviços assistenciais.
Sem saber exatamente em que ponto estamos na construção de nosso sistema de saúde e para onde vamos - ora somos o farol do mundo com nosso sistema universal e igualitário, ora o país que desponta como sede de um portentoso mercado de planos de saúde -, a definição de encargos é uma missão quase impossível. A necessidade de proteção simultânea de interesses públicos e privados, incluindo aqueles que extrapolam os limites do sistema de saúde, funciona como um poderoso escudo antirresponsabilidade. Como ninguém é responsável, todos denunciam. O preâmbulo de qualquer discurso sobre saúde é a denúncia sobre faltas. O que varia é a ênfase na falta. Uns preferem a falta de gestão; outros, de financiamento. São essas falsas pistas que estimulam temporadas de caça sazonais e seletivas aos médicos, aos medicamentos, aos leitos, aos equipamentos e resguardam a troca de uma política de saúde por um punhado de interesses particulares e imediatistas.
O caso Adrielly-Adão é insólito porque rompeu com as desculpas sobre a quantidade de recursos. O sumiço do substituto do neurocirurgião no plantão da emergência que deveria ter socorrido uma criança baleada horrorizou porque desvela o estado de corrupção, no sentido do processo ou ato de tornar-se apodrecido, da rede assistencial pública e privada. Adrielly chegou viva ao Hospital Salgado Filho, seu quadro clínico era de extrema gravidade, e exatamente por isso foi encaminhada para um serviço de emergência. Em circunstâncias habituais, riscos à vida, sobretudo de uma criança, comovem e mobilizam solidariedade imediata. Contudo, usos e costumes aceitos e as normas oficiais que regem a dinâmica interna dos serviços de saúde nem sempre permitem uma interação humana entre pacientes e quem os atende.
A existência de rotinas largamente disseminadas, como a sublocação da vaga de médicos e enfermeiros nos serviços públicos de saúde, provocou espanto, em função da associação automática entre alteração de identidades com a desonestidade e inaplicabilidade da regra a profissionais tão dedicados como os de saúde. Mas as explicações para a existência de um mercado colateral de trabalho são banais. Quem obtém melhor remuneração em outros postos opta por manter o cargo com o intuito de obter vantagens na aposentadoria, e contrata seus substitutos, mediante a transferência do salário para colegas geralmente situados em posições iniciais na carreira. Trata-se de uma autorregulação consentida e legitimada, que falha quando as oportunidades de maiores remunerações permitem a recusa de plantões em feriados, fins de semana, locais distantes da residência etc. O segundo motivo de assombro para quem acompanha o desenrolar da apuração do não atendimento a Adrielly foi a apelação para o álibi de inexorabilidade da morte. A intenção de espanar a ignorância (como se alguém acreditasse que os serviços de emergência realizam milagres) e apaziguar os ânimos exaltados pelo descaso só serviu para expor ainda mais as entranhas pútridas da rede assistencial. O terceiro motivo de perplexidade deveu-se à constatação, particularmente dos leigos, de que as engrenagens, movidas a pagamentos por plantões de gente desconhecida pelos chefes, atendendo pessoas como coisas, traduzíveis em procedimentos remunerados e metas de produção, revelam a péssima administração da saúde.
As soluções apresentadas pela prefeitura do Rio de Janeiro e peloMinistério da Saúde também assustam. Implantar métodos de apuração de presença de médicos não responde sequer à preservação do decoro perante a tragédia, quanto mais ao enfrentamento real da situação da saúde. Apertar os controles da presença de quem não existe é completamente desnecessário. A introdução de artefatos tecnocráticos hi-tech, como o ponto biométrico, e a imposição de indicadores artificiais de performance prenunciam uma nova sequência de sofrimentos e escândalos. Os plantões continuam esvaziados e os prazos para o acesso de pacientes com câncer no SUS e para consultas nos planos privados de saúde não estão sendo cumpridos. A sugestão dos parentes das vítimas de mau atendimento parece mais promissora. O desejo manifesto por quem experimentou a mistura da dor decorrente da perda de familiares com a humilhação do mau atendimento é que os casos não se repitam. A diferença entre a reiteração de alternativas irreais e as perspectivas construídas com sentimentos e valores genuínos é cristalina.
Médicos não somem, não deixam de trabalhar. Adão seguiu exercendo importantes atividades como cirurgião de coluna de um hospital privado. A responsabilidade direta pela omissão de atendimento de Adrielly será apurada. Porém, sem o exame criterioso e das responsabilidades indiretas de professores, pesquisadores, entidades profissionais e empresariais e dos políticos, as urgentes tarefas de organização de um sistema público democrático de qualidade ficarão mais uma vez adiadas.
 
Parceria na Saúde reduzirá filas no atendimento DCI - 21–1-2013
 
 
O prefeito Fernando Haddad anunciou no último dia 18, , em entrevista à rádio CBN, que a fila de cerca de 660 mil pedidos, dados de outubro de 2012, para consultas, exames e cirurgias eletivas será combatida em duas frentes. De forma emergencial, mutirões e convênios serão organizados para atenuar as situações mais graves. Para isso, a Prefeitura de São Paulo pretende acionar recursos de até R$ 90 milhões do Ministério da Saúdepara convênios com a rede particular. Por outro lado, a médio e longo prazo, a instalação da Rede Hora Certa de Saúde irá reunir diversas etapas do atendimento no mesmo local, evitando périplos dos pacientes entre os agendamentos de consultas, exames e pequenas cirurgias.
"Há um programa do Ministério da Saúde que não chegou ainda em São Paulo, mas chegará na nossa parceria. São R$ 90 milhões para cirurgias eletivas. Como não temos ainda a Rede Hora Certa, faremos convênios para que os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) possam ter um atendimento em caráter emergencial na parte da rede particular que tenha alguma ociosidade", disse o prefeito.
"O mutirão pode ajudar, mas não é a solução estrutural, que virá com a Rede Hora Certa", completou Haddad.
De acordo com o levantamento da Secretaria Municipal de Saúde, considerada a média mensal de janeiro a outubro de 2012, mais de 65 mil pedidos de exames estavam em fila de espera. No caso de consultas especializadas, chega a 255 mil. Para cirurgias eletivas, a fila é de 313 mil.3.2 
 
 
Para diminuir filas, Haddad quer parceria com clínicas privadas – FOLHA DE SP-19-1-2013
Prefeito anunciou plano emergencial para diminuir espera por exames, consultas e cirurgias na saúde
Reportagem da Folha mostrou ontem que há 661 mil pedidos na espera; há exames que demoram até 3 anos
O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou ontem que vai firmar convênios com consultórios e centros cirúrgicos particulares para tentar reduzir a fila de espera na rede municipal de saúde.
O anúncio foi feito ontem, após a Folhadivulgar que 661 mil pedidos de consultas, exames e cirurgias estão na fila do serviço médico da prefeitura -os dados são de outubro de 2012.
Alguns procedimentos, como um eletroneuromiograma (que diagnostica problemas em músculos e nervos), podem demorar até 35 meses para serem feitos. Uma ultrassonografia transvaginal, que detecta câncer de ovário, tinha 72.517 pedidos na fila e demora de seis meses.
O prefeito afirmou que as parcerias serão emergenciais. Elas serão feitas com verba de um programa do Ministério da Saúde para reduzir filas de espera, cerca de R$ 90 milhões para todo o Estado -ele não soube informar, no entanto, quanto desse dinheiro viria para o município.
A Secretaria da Saúde afirmou que não poderia passar os detalhes do projeto ainda nem dizer quando ele será implementado porque o plano está sendo formatado.
Segundo Haddad, a ideia é que a medida funcione até que a Rede Hora Certa, projeto que prevê a implementação de 31 unidades de saúde para realizar até pequenas cirurgias, seja implementado. Ainda não há prazo.
Para o professor do departamento de Medicina Preventiva da USP, Mário Scheffer, a proposta é uma "surpresa". Segundo ele, há risco de usuários doSUS serem tratados de forma pior do que os pacientes particulares na rede privada, já que o valor repassado pela prefeitura para os atendimentos seria menor.
Para Antônio Carlos Lima, conselheiro municipal de saúde e diretor do sindicato dos servidores municipais, medidas "paliativas" como essas não são ideais. Melhor seria investir em projetos permanentes rapidamente.
Já Yussif Ali Mere Junior, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de SP diz que a parceria com as entidades privadas é uma boa solução para solucionar o problema das filas e que a rede privada teria condições de realizá-la.
 
TRANSPARÊNCIA
 
O prefeito também afirmou ontem que pretende tornar os dados da fila da saúde públicos, junto a todas as outras informações municipais. "Não queremos nada difícil de acessar", disse ele.
As declarações foram dadas ontem à tarde, na apresentação no Controlador-Geral do Município, Mario Vinicius Spinelli, que terá a função de combater a corrupção na prefeitura.
A Folha pedia os dados de fila na saúde há sete meses para a administração e só os conseguiu ao recorrer à Lei de Acesso à Informação.
Januario Montone, secretário da Saúde da gestão Gilberto Kassab (PSD) afirmou ontem, em nota, que a dificuldade em obter a informação não se deveu "à falta de transparência, mas ao fato de que a informação não estar disponível ao gestor".
Segundo ele, a gestão Kassab realizou, em 2011, 26 milhões de consultas, 43,7 milhões de procedimentos diagnósticos e 241 mil internações.(TALITA BEDINELLI E EVANDRO SPINELLI).         
 
"A cada dia vejo que meu tempo de vida está sendo reduzido. Eu me preparei para fazer a cirurgia, confiava nos médicos do hospital"
 
 
 Fila, um desafio!

 
 
 Saúde E OS PRIMEIROS 30 DIAS dos governos municipais

 
 
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