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Desvendados genes do câncer colo retal

Pesquisadores destrincham o genoma da doença que leva anualmente mais de 600 mil pessoas do mundo à morte e aumentam a possibilidade de criação de tratamentos individualizados
 
ROBERTA MACHADO
 
Um grupo de pesquisadores desvendou o genoma do câncer colo retal, doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A lista detalhada de genes que formam esse tipo de tumor foi divulgada hoje na revista científica Nature. Na análise de 132 amostras de câncer de colo e 62 de reto, os pesquisadores identificaram 32 genes, 24 deles com mutações significantes. A descoberta, acreditam os autores da pesquisa e especialistas, pode ajudar na produção de remédios para o combate à doença.
 
O estudo envolveu dezenas de laboratórios e centenas de cientistas, que trabalham em conjunto há anos para destrinchar as causas de diversos tipos de tumores. A união foi formada pelo projeto Cancer Genome Atlas, grupo que já apontou os genes causadores dos cânceres de ovário e de cérebro (leia Para saber mais). No futuro, eles esperam descrever o DNA de 20 tipos de tumores. Há estudos que procuram fazer o mesmo com o carcinoma de pulmão, de mama, de rins e de tireoide.
 
A pesquisa detalhada envolveu a análise da sequência de exoma (parte do genoma), do número de cópias da sequência genética, do RNA mensageiro e da metilação e expressão de microRNA. Os resultados mostraram que, embora os cânceres de colo e reto tecnicamente ocorram em áreas diferentes, eles apresentam um padrão similar de alterações genéticas. Isso significa que pode ser possível desenvolver um tratamento parecido ou mesmo único para os dois tipos de doença.
 
Os cientistas também concluíram que 16% das 276 amostras eram hipermutantes, isto é, apresentaram mais de 10 mutações a cada milhão de nucleotídeos se comparados às outras células dos pacientes. Identificar os genes que causam esse fenômeno é fundamental para o conhecimento sobre a doença, pois esse tipo de câncer costuma ser mais resistente ao tratamento que o comum. "Se esses resultados forem confirmados, podemos prever quais tumores serão agressivos", especula Raju Kucherlapati, professor de medicina da Universidade de Havard, nos Estados Unidos, e participante do estudo.
 
A descoberta dos genes envolvidos em determinado tipo de câncer pode ser também um grande guia para o tratamento da doença. "Muitos dos genes descobertos nesse estudo podem ser alvos de novos tipos de tratamento. Por exemplo, 5% dos pacientes tinham um grande número de cópias de um gene também presente em alguns casos de câncer de mama, e já há uma droga para ele. É possível que a mesma droga seja efetiva nessa subpopulação de pacientes de câncer de colo", exemplifica Kucherlapati.
 
Mapa da mina
 
Para cada uma das mais de 200 formas de câncer, há sempre um erro genético que causa o crescimento descontrolado das células. Essas sequências defeituosas podem existir há anos sem se expressar ou serem o resultado de mutações que ocorreram no código original da pessoa. "Esse é o grande mistério: o que faz com que uma célula normal, que tem todas as suas funções programadas, comece a sofrer um processo de alteração. Fatores hereditários podem influenciar ou isso pode acontecer por fatores ambientais", reforça Janyara Teixeira, oncologista do Grupo Acreditar. Ao conhecer esses genes, fica mais fácil diminuir o impacto que eles causam ao corpo.
 
A maior esperança que o mapeamento genético do câncer traz é a possibilidade da criação de um tratamento personalizado para cada paciente. Atacando cada gene específico que causa a doença, é possível evitar tratamentos mais invasivos, como a quimioterapia. Já existem alguns remédios direcionados aos genes relacionados ao câncer, mas conhecer todo o leque de sequências genéticas envolvidas com a doença pode dar aos médicos a opção de criar um coquetel de drogas voltado especificamente para cada paciente.
 
"A medicina oncológica tem se tonado cada vez mais personalizada. Isso significa identificar o remédio certo para o paciente certo. Usar dezenas de tipos de drogas para tratar centenas de tumores não é um critério seletivo e tem um resultado muito ruim no tratamento do câncer", avalia Igor Morbeck, oncologista da clínica Onco Vida. "Os tumores sempre serão diferentes de uma pessoa para outra, e cada um deles expressa uma série de genes e responde ao tratamento de uma forma diferente", adianta.
 
Embora já existam alguns desses remédios, a combinação de drogas ainda não é capaz de eliminar os tumores sozinha, além de causar diversos efeitos colaterais. Esse futuro de tratamento geneticamente personalizado somente será possível quando forem desenvolvidas drogas melhores, que combatam ao menos os principais genes responsáveis pelo desenvolvimento do câncer ou que até mesmo sejam capazes de atingir toda uma família de genes de uma só vez. "É um quebra-cabeça de milhões de peças que começam a ser encaixadas. Certamente, em duas décadas, a coisa estará muito diferente", ressalta Morbeck.
 
Mais agressivo
 
A prioridade dada ao câncer colo retal pela comunidade científica é justificada pela agressividade desse tipo de tumor, quarto responsável por mortes no mundo. No Brasil, a doença deve matar mais de 8 mil pessoas somente neste ano. Apenas de homens, estima-se que haja quase 6 mil óbitos no país. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), são feitos mais de 10 mil artigos sobre o câncer de colo e reto todos os anos, na tentativa de diminuir esses números. "Cada vez que você entende mais a doença, você consegue buscar vias de tratamento mais eficazes. Os remédios também melhoram a sobrevida dos pacientes metastáticos. Há 15 anos, a expectativa deles era de seis meses, hoje chega a cinco anos", resumiu o presidente da entidade, Anderson Silvestrini.
 
No entanto, mais que desenvolver novas formas de terapia, é essencial estimular a prevenção à doença. De acordo com Silvestrini, apenas metade dos casos no país é diagnosticada antes de alcançar o estado avançado ou metastático. "Os sintomas são meio vagos. Quando há alteração do hábito intestinal, sempre se pensa que é devido à alimentação. Mas estudos mostram que, se a partir dos 50 anos for feito o estudo oculto das fezes, a incidência de morte diminui em 12%. Uma retroendoscopia diminui a mortalidade em 20%", compara.
 
"Cada vez que você entende mais a doença, você consegue buscar vias de tratamento mais eficazes. Os remédios também melhoram a sobrevida dos pacientes metastáticos. Há 15 anos, a expectativa deles era de seis meses, hoje chega a cinco anos"
 
Anderson Silvestrini, oncologista
 
 
Fonte: Correio Braziliense


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