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2012 - 27 - 613 - DOMINGUEIRA - ESTADO DE CORRUPÇÃO CONSENTIDA

1.  PRIMEIRA PÁGINA - TEXTOS DE GILSON CARVALHO
 
ESTADO DE CORRUPÇÃO CONSENTIDA (2) - Gilson Carvalho[1][1]
 
Há mais de dez anos atrás escrevi uma crônica sobre corrupção onde fiz a assertiva: “vivemos num estado de corrupção consentida”. Volto a falar do tema diante do estado de “comoção social” pela fraude na área de saúde envolvendo fornecedores e gestores.
 
Acho que continuamos ingênuos. E, demais! Quem imagina que este fato seja único, raro e inusitado? Não é assim. Podemos até fechar os olhos mas, esta corrupção está entranhada em nós brasileiros durante pelo menos os últimos quinhentos anos.
 
Quando surgem denúncias sobre corrupção no SUS, me abordam dizendo: “Viu a corrupção no SUS?”. Ora, por que esta venda nos olhos? Não existe corrupção sem os dois pólos, o passivo e o ativo.Só há corrupção no público com a conivência prazerosa do privado. Não podemos pensar no privado angelical e o público diabólico.
 
Será que não imaginamos como funcionam as milionárias campanhas políticas? São poucas as campanhas políticas onde não haja uma face suja. Ou o dinheiro é sujo ou arrecadado de maneira suja. Quantos, na mais reta intenção, enfiariam a mão nos bolsos para doar 100, 500, 1000 reais para uma campanha? Contam-se nos dedos (só das mãos limpas!). Se este dinheiro vem de empresas podem ter certeza que após a posse do eleito estarão às portas cobrando a fatura. Ou a benevolência de que não se contrariem seus interesses ou mesmo a subserviência de fazer negócios escusos. Vão corrigir e dizer: mas não é assim sempre. Podem ter certeza de que, quando não for assim, raramente serão eleitos. Mas, e a venda dos botons, bonés e camisetas? Não arrecada? Me enganem que gosto! Em que proporção estas quinquilharias ajudam no financiamento?  Mais, até o ato admirado do primeiro escalão panfletar e tremular bandeiras nas esquinas, pode ser uma moeda de troca na hora de manter cargos. Podemos pensar nos grandes escândalos público-privados como a construção de Brasilia, as grandes obras da ditadura militar, a privataria tucana, o mensalão (epa, não foi mensalão foi quadrimestral!). Vampiragem. Sanguesugas. Ambulâncias etc. etc.
 
A mesma coisa, só conferir a mídia, acontece no privado e com muito mais intensidade que no público. Que o digam os setores de compras das empresas. Tem uma questão: as empresas não têm interesses em se expor perante a sociedade e, muitas vezes, o funcionário ou gerente corrupto sabe o quanto o são os que estão hierarquicamente acima deles. No mesmo ou em outro negócio.
 
Resumindo podemos falar que o equivalente a um terço de nosso PIB está no caixa dois, provado por vários pesquisadores, inclusive do Instituto de Planejamento Tributário, uma empresa privada. Nosso PIB que fechou em R$ 3,7 tri em 2011 poderia ter sido de cerca de R$5 tri! A carga tributária que é em média de 35% do PIB poderia ser bem menor se todos pagassem e declarassem a renda. Uns pagam pelos que não pagam?
 
Acostumei-me a fazer um cálculo simplista: O PIB oficial de 2011 foi de R$3,7 tri. Tomando os 35% da carga tributária teremos R$1,3 tri de recolhimento pelo público. O público, que só pode roubar de mãos dadas com o privado, tem estimada uma corrupção possível de R$260 bi - 20% deste total. (Ética do mercado! Frase da semana dita pela Renata representante da Rufolo).  Se o privado está metido no meio da corrupção pública e ainda tem todo o caixa dois escondido, podemos dizer que o privado tem um potencial de trabalhar com um montante de corrupção de R$5 tri (R$3,7 tri do PIB declarado + R$1,3 bi de caixa dois!). O horizonte de teto de corrupção pública é de R$1,3 tri e do privado R$5 tri!!!  E ainda há inocentes que digam que a corrupção é pública e só ou mais na saúde (SUS)!!!  Ingenuidade ou má fé?
 
A corrupção nossa de cada dia, o mais das vezes, não se materializa em moeda. É um estado de comportamentos e atitudes que jamais associamos com a corrupção. Na área de saúde podemos citar: usar indevidamente os serviços de saúde; exigir indevidamente medicamentos, exames e procedimentos desnecessários; receber % para prescrição ou uso de medicamentos, procedimentos, próteses; descumprir carga horária contratual de trabalho; perder material de saúde  por mau uso; passar parentes e amigos na frente da fila dos atendimentos, de exames etc. etc....
 
Todos conhecem a corrupção e todas as suas mais diferentes formas. Mas, a tendência nossa é terceirizá-la para os outros. Responsabilidade, culpa e solução é dos outros. A dificuldade é transformar conhecimento em ação e assumí-la. Da intenção ao ato  existe  um grande fosso. É necessária uma grande força interior para assumirmos nossa parcela de responsabilidade para transformar a realidade a partir de nós próprios.
 
2.  SEGUNDA PÁGINA - TEXTOS DE OPINIÃO DE TERCEIROS
DÍZIMO DA CORRUPÇÃO E O FIM DA REPUTAÇÃO ILIBADA DA “INICIATIVA PRIVADA”
IN POLÍTICA NACIONAL, BY EDUARDO PANDELÓ – DIRETOR DE JORNALISMO DA RÁDIO PIRATININGA – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
RECEBENDO “UM” POR FORA !
 
Em uma reportagem especial feita por Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo, o Fantástico mostrou como funciona um esquema para fraudar licitações de saúde pública, feito entre empresas fornecedoras e funcionários públicos. Com o conhecimento do diretor e do vice-diretor do hospital, o repórter Eduardo Faustini fingiu ser o novo gestor de compras da instituição. Todos os outros funcionários acreditavam que ele era mesmo o responsável pelo setor de compras, onde pôde acompanhar livremente todas as negociações e contratações de serviços.
 
“Todo comprador de hospital, a princípio, é visto como desonesto. Acaba que essa associação do fornecedor desonesto com o comprador desonesto acaba lesando os cofres públicos. E a gente quer mostrar que isso não é assim, em alguns hospitais não é assim que funciona”, disse Edmilson Migowski, diretor do hospital. As negociações foram todas filmadas de três ângulos diferentes e levadas até o último momento antes da liberação do pagamento. Nenhum negócio foi concretizado, nenhum centavo do dinheiro do contribuinte foi gasto.
 
Por que não fiquei espantado quando assisti essa reportagem ? Simplesmente porque essa prática é comum, acontece em todo o lugar, acontece todo dia, acontece dentro de casa, na escola, no futebol, nas industrias, no comércio, está arraigada no DNA do Brasileiro !
E Pra não ficar chovendo no molhado vou relembrar o que escrevi aqui mesmo neste blog na coluna de 4 de julho do ano passado:
 
A Crise de Identidade do Brasileiro: A Lei de Gérson e o Jeitinho Brasileiro – relembre no link abaixo: http://www.superradiopiratininga.com.br/eduardopandelo/?p=132
 
O Problema é genético ?
 
Num País onde a Honestidade é vista como virtude à ser apregoada aos quatro cantos e ventos, o que pensar realmente do Povo Brasileiro, será que está no DNA ? Será que somos TODOS corruptos ou corruptíveis ?
 
Não, não é só o político brasileiro que é corrupto, ou têm desvios de caráter ! É o brasileiro, mesmo ! E quem é esse “personagem”, é o Outro ? NÃO somos NÓS…Independente de credo, cor ou classe social. Basta ter a mínima possibilidade, basta uma pequena oportunidade, uma brecha na lei, um milisegundo só e Pronto… Vale a Lei de Gérson …E queremos levar uma vantagem…Quer ver ? :
 
Tudo começa no dia a dia, Você sai de casa atrasado para levar seu filho para a escola, o celular toca e apesar de proibido Vc atende e continua dirigindo, não há vagas para estacionar e Você para em Fila Dupla, afinal de contas é só um minutinho…
 
Você viaja a trabalho para sua empresa e recebe uma verba pra custear as despesas: transporte, hospedagem alimentação, etc.. Vai a um restaurante e ao pagar a conta pede nota fiscal, o garçon pergunta:- Faço a nota no valor real ou o senhor deseja que coloquemos um Valor Maior ?
O Pior é que Eu não consigo encontrar respostas para minhas perguntas. E essa crise de identidade me Assombra: Afinal somos por natureza cidadãos de mau caráter ? Queremos Levar vantagem , ganhar um troquinho, dar um jeitinho, receber um por fora ? Somos Espertos ou espertalhões ? Ensinamos nossos filhos corretamente? Honestidade é Virtude? Somos Corruptos ou Corruptíveis?
 
Aceitamos todos os escândalos de corrupção no Brasil passivamente, porque se estivéssemos lá faríamos a mesma coisa ! É comum ouvir as pessoas falarem uma coisa , mas no íntimo pensarem e agirem de outra.
 
O dízimo da Corrupção e a reputação ilibada da “Iniciativa Privada”
 
Depois dessa reportagem o que caiu por terra mesmo foi a reputação ilibada da chamada Iniciativa Privada. Os honestíssimos  empresários Brasileiros que tanto reclamam da corrupção, são os primeiros a incitar e incentivar a prática, oferecem comissão, “Bola”, presentes, ou o chamado um $ por fora ! Isso em nome de levar vantagem em tudo , Certo?
 
Pra ganhar contrato com o Governo vale superfaturar, pagar comissão, pagar viagens, etc… Só existe Corrupção por que existe Corruptores. E Se Você se ofendeu com a reportagem e saiu por aí criticando tudo e todos faça um verdadeiro exame de consciência, pois antes de atirar a primeira pedra, use a filosofia Cristã, e veja se Você nunca corrompeu ninguém ! !
 
Os 10% da comissão “definida pelo mercado” acabou se transformando numa espécie de dízimo da corrupção e é mais um tapa na cara do Povo Brasileiro !
 
Afinal Qual é o seu Preço ?
 
3.  TERCEIRA PÁGINA – NOTÍCIAS
 
3.1 O RELATO ESCRITO DE UM DOS CAPÍTULOS SÓRDIDOS DA CORRUPÇÃO PÚBLICO-PRIVADA ENTRE MIRÍADES DELES
 
Locanty é flagrada em novo escândalo de corrupção em Licitações – Domingo 18/3/2012
 
Licitações com cartas marcadas, negociatas, combinações indecorosas de suborno, propinas, truques para escapar da fiscalização. Certamente, você já ouviu falar muito de corrupção. Mas hoje você vai conhecer a cara dela. E do jeito mais deslavado. Durante dois meses um repórter do Fantástico trabalhou em uma repartição pública. O que ele viu - e gravou - é um escândalo. Um retrato de como algumas empresas agem em órgãos do governo para ganhar dinheiro. Muito dinheiro. O nosso dinheiro. Entre quatro paredes, o que a gente paga em impostos e que deveria ser destinado à saúde, à educação e outros serviços vai parar no bolso de empresários inescrupulosos e funcionários públicos corruptos. Uma vergonha. A reportagem é de Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo.
 
Empresários abrem o jogo. Licitações fraudadas são mais comuns do que a gente imagina. O desvio de dinheiro público é tratado por eles como coisa normal. E eles confessam que pagam propina. Os valores são milionários. Você vai se assustar com o truque que eles usam para esconder o suborno. O Fantástico mostra agora o mundo da propina, da fraude, da corrupção. De um jeito como você nunca viu. E vale a pena você ver: É o seu dinheiro que eles estão roubando. Nosso objetivo foi descobrir como isso é feito. O Fantástico pediu ajuda à direção de um hospital de excelência, hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um grande hospital público infantil. Queríamos assumir o lugar do gestor de compras da instituição, acompanhar livremente todas as negociações, contratações, compras de serviços. Saber se existe oferta de propina, pagamento de suborno de um dinheiro que deveria ser sagrado: o da saúde. Conseguimos. Durante dois meses, nosso repórter Eduardo Faustini frequentou o hospital. Na verdade, foi bem mais do que isso. Ele teve um gabinete aqui dentro. Foi o novo gestor de compras da instituição. Essa informação só era de conhecimento de duas pessoas no hospital, o diretor e o vice-diretor. Para todos os outros funcionários, o nosso repórter era mesmo o novo responsável pelo setor de compras. “Todo comprador de hospital, a princípio, é visto como desonesto. Acaba que essa associação do fornecedor desonesto com o comprador desonesto acaba lesando os cofres públicos. E a gente quer mostrar que isso não é assim, em alguns hospitais não é assim que funciona”, disse Edmilson Migowski, diretor do Instituto de Pediatria/UFRJ. As negociações foram todas filmadas de três ângulos diferentes e levadas até o último momento antes da liberação do pagamento. Evidentemente, nenhum negócio foi concretizado, nenhum centavo do dinheiro do contribuinte foi gasto. Só mesmo o tempo dos corruptos é que foi perdido. E eles agora vão ser desmascarados. Com autorização da direção do hospital, o repórter Eduardo Faustini convocou licitações em regime emergencial. Elas são feitas por convite, são fechadas ao público. O gestor convida quem ele quiser. Sem nenhuma interferência do hospital, o repórter escolheu quatro empresas, que estão entre os maiores fornecedores do Governo Federal.
 
Três dessas empresas são investigadas pelo Ministério Público, por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas meio bilhão de reais só em contratos feitos com verbas públicas.
 
Em frente ao repórter gestor de compras, nessas cadeiras, se sentaram diretores, donos de empresas que deram uma triste aula de como se é desviado o dinheiro dos serviços públicos.
Cassiano Lima é gerente da Toesa Service, uma locadora de veículos. Foi convidado para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. Ele começa tomando cuidados.
 
“Queria saber quem me recomendou”, questiona Cassiano Lima. Mas o desejo de fechar negócio é maior. E ele abre o jogo. “Cinco por cento. Quanto você quer?”, pergunta ele.
 
Falando em um código em que a palavra "camisas" se refere à porcentagem desviada, Cassiano aumenta a propina.
 
“Dez camisas, então? Dez camisas?”, sugere.    “Pode melhorar isso, não?”, pergunta o repórter.  “Quinze”, aumenta.
 
Renata Cavas é gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções. A empresa tem vários contratos com hospitais.
 
“Vocês estão trabalhando para o Into?”, pergunta o repórter.      “Into, Cardoso, Ipanema, Lagoa e Andaraí”, responde Renata Cavas.
 
Ela foi chamada para a licitação de contratação de mão de obra para jardinagem, limpeza, vigilância e outros serviços. Ela também vai direto ao ponto.
 
“Eu quero o serviço. Você escolhe o que você quer. Vou fazer. Faço meu preço, boto. Qual é o percentual? Dez?”, questiona Renata.
 
O repórter quer saber exatamente qual é o valor que a gerente está oferecendo.
 
“Se eu ganho um milhão e trezentos, eu dou 13 0. É o normal”, diz. “Dez por cento. É o praxe, mercado é 10%. Se a sua pretensão é 15, ótimo. Você tem que me informar, porque eu vou formatar em cima da sua pretensão”, completa.  O repórter quer saber se a gerente é capaz de aumentar ainda mais a propina.
 
“Eu pensei em 20%”, diz ele.  “Tranquilo, você manda. Eu quero o serviço”, afirma Renata
 
Carlos Alberto Silva é diretor e Carlos Sarres, gerente da Locanty Soluções e Qualidade.
 
“A gente tem muitos contratos. Tem mais de 2 mil contratos”, informa Sarres.
 
“Nós temos hoje, aproximadamente, 3 mil clientes nessa área de coleta”, diz Silva.
 
Foram convidados para a licitação de coleta de lixo hospitalar.
 
“A gente vai precisar é de preço. É um dos itens mais importantes para gente montar lá”, diz Silva
 
“O que você tem para oferecer?”, pergunta o repórter.    “Você fala em matéria de percentual? Percentual, o preço que der, a gente abre para você o custo e a nossa margem, e a gente joga o percentual que você desejar, que você achar que encaixa”, afirma Sarres.        “A margem, hoje em dia, fica entre 15 e 20”, diz Silva.
 
Os empresários explicam como é feito o pagamento da propina para que ninguém perceba.
“Onde você marcar. Os caras são muito discretos. Nem parece que é dinheiro. Traz em caixa de uísque, caixa de vinho. Fica tranquilo. A gente está acostumado com isso já.”, afirma Sarres.
Quem fala é David Gomes, o próprio presidente da Toesa: “Bateu o crédito na conta. No máximo 48 horas depois, está na sua mão”, conta. “Eu diria que é a maior empresa no ramo de ambulância em atividade no país”, afirma. Ele veio avalizar todo o acerto que foi feito para o pagamento da propina. “Uma das coisas que eu passo para os meus filhos e que eu aprendi,: eu protejo meu contratante, meu contratante me protege”, diz ele.  O pagamento é sempre em dinheiro.    “Que tipo de moeda?”, pergunta o repórter. “A que você quiser. Normalmente em real, o real está mandando aí”, explica ele.
 
Ele oferece outras opções: “Dólar, euro”.     “Como você quiser, até iene. Quer iene?”, diz Renata Cavas.
 
Ela faz outra visita à sala do suposto gestor, e o repórter Eduardo Faustini pergunta: Qual é o melhor lugar para entregar a propina?
 
“Shopping, praia. Shopping. Subsolo, discreto. Quinta da Boa Vista! Sensacional. Floresta da Tijuca. Olha aí que bacana”, diz ela.
 
O suborno pode ser um percentual do valor total. Ou um valor fixo em cima de cada item fornecido.
“Tem gente que não conhece alimentação e diz assim: ‘Figueiredo, eu quero 30%’. Isso não existe em alimentação. Em alimentação, nós temos que considerar a quantidade diária, colocar mais um valor ali em cima, que no montante do mês a coisa vai crescer. Então o que eu vou fazer? Eu vou te apresentar os preços e você vai dizer: ‘Figueiredo, tu vai botar mais xis aí em cima’. Deu para entender? Está claro?”, explica Figueiredo. Jorge Figueiredo é representante comercial da Bella Vista Refeições Industriais.
 
“Somos uma empresa aberta para negociação. Forneço para Jardim Zoológico, Guarda Municipal. Forneço para Policia Civil, a gente está em todas”, completa ele.
 
Ele dá um exemplo de como esse esquema de propina pode chegar a valores absurdos: “Isso é bom quando você está falando de três, como eu tenho aí. Eu tenho fornecimento de 12 mil serviços por dia. Aí, meu irmão. Tu bota 12 mil serviços em um dia, acrescentando mais um real em cada serviço e projeta isso para 30 dias. Aí é o diabo”, diz.
 
Em um hospital, a palavra emergência deveria servir apenas para classificar um tipo de atendimento. Mas não é assim. Emergência pode ser o código para licitações e concorrências de carta marcada.
 
“Emergências existem. Um terremoto derruba as pontes, enchentes. Agora, uma coisa que acontece demais são emergências planejadas. Você tem uma repartição pública lá e o sujeito do almoxarifado, juntamente com o diretor, que sempre está conivente, deixa o papel higiênico chegar em um ponto em que ,'amanhã vai acabar o papel higiênico, temos que comprar papel higiênico por emergência!", explica Claudio Abramo, diretor da Transparência Brasil.
 
Como a lei prevê concorrência, mesmo em licitações em regime emergencial, a empresa que corrompe se oferece para conseguir as outras concorrentes.
 
“Vou trazer tudo filé. Só empresa boa, de ponta. Vou trazer empresa de ponta, tá?”, garante Renata.
 
As concorrentes, que fazem parte do esquema, entram com orçamentos mais altos que o da primeira empresa. Entram para perder.
 
“A gente faz a mesma coisa para eles. Eles pedem para gente a mesma coisa. Da mesma maneira que a gente vai pedir para eles formatarem uma proposta em cima da nossa - a nossa mais baixa - eles pedem para gente fazer isso para eles”, diz Soares.
 
“Do jeito que eu cubro aqui, ele me cobre lá. É uma troca de favores”, define Silva.  “É uma troca de favores. Isso é muito normal, tá? É extremamente normal”, garante Renata.
 
O nosso repórter, que se passa por gestor de compras, pede a presença do dono da empresa para confirmar o pagamento da propina. Rufolo Villar vai ao hospital. Ele confirma que, apesar de não estar no contrato social da Rufolo, é ele mesmo quem manda na empresa. “Quem existe no contrato social é minha mãe e meu tio. Eu toco a empresa”, diz ele.    “Já fizemos todos os hospitais, de uma vez só, do estado”, garante ele. Ele fala abertamente sobre o pagamento do percentual da propina. “O mercado pratica 10%, é o normal, é o praxe. Aí tem uma negociação melhorzinha e faz para 15%. Hoje, 20% eu não vejo mais no mercado”, diz. O empresário diz que este roubo do dinheiro público que o Fantástico está denunciando é comum. O que é uma fraude, ele chama de acordo de mercado.
 
“Felizmente, nós temos um acordo de mercado. Isso é normal. Eu faço isso direto. Tem concorrência que eu nem sei que eu estou participando”, afirma. “É a ética do mercado, entendeu?”, diz Renata.
 
“No mercado, a gente vive nisto. Eu falo contigo que eu trago as pessoas corretas. Vigarista, não quero nunca”, afirma o empresário. Para comemorar a negociata, ele convida o gestor para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Uma licitação correta, honesta, tem que terminar sempre com a abertura dos envelopes das propostas para afinal se saber quem é o vencedor. Mas na licitação fraudada, isso não acontece. É que os valores de todas as propostas já são acertados previamente. O representante da Toesa antecipa o que só deveria ser conhecido na abertura dos envelopes. Ele fala em milhares de reais. “Dois, oito, zero.O nosso, Toesa. O outro é 313”, diz o representante.  A representante da Rufolo faz a mesma coisa.    “Pode abrir? Não lacrei nada. Valor da CNS/ano: 5, 990, 002, 48”, diz Renata.  “O principal para mim: nossos 20%?”, pergunta o repórter.  “Está tudo aí dentro”, garante ela.
 
No dia do pregão, os representantes das empresas vão ao hospital para completar a farsa.
 
Preste atenção na cena absurda: a licitação para a contratação de empregados para serviços gerais. A ata é o documento final da licitação. E tem que ser feita por um funcionário público responsável pela concorrência. Mas, lá, o documento oficial é redigido pelos representantes das empresas. Se o contrato fosse cumprido, a Rufolo receberia R$ 5.184.000. A propina seria de mais de R$ 1.036.800.
 
A situação se repete na licitação para a escolha da empresa que vai ser responsável pelo lixo hospitalar. Ela está armada para a escolha da Locanty. A empresa conseguiria a verba de R$ 450 mil. O que daria de propina quase R$ 70 mil. E o mesmo acontece na disputa fraudada pela Toesa para fornecimento de ambulâncias. A Toesa ganharia R$ 1,680 milhão pelo contrato. O desvio seria de mais de R$ 250 mil. Apenas nestes três contratos, o gestor corrupto ganharia quase R$ 1,4 milhão do dinheiro da saúde.  Nós telefonamos para o presidente da Toesa. “Vocês cismam que tem carta marcada e não tem prova para isso. Você tem prova de que existe licitação de carta marcada?”, disse David Gomes, da Toesa.  Durante essa reportagem você viu Cassiano Lima, funcionário de David Gomes, fraudando uma licitação. Telefonamos também para a empresa Rufolo. É a própria Renata que atende a ligação. Ela diz que o empresário vai falar e marca a entrevista. No dia marcado, fomos à empresa. Uma secretária avisa que ninguém falaria. Com Jorge Figueiredo, que no meio da licitação desistiu de disputar o contrato, conversamos por telefone. Ele parece não acreditar. “Só pode ser trote. Para de gozação”, diz ele. Nós fomos à sede da Bella Vista. Fomos avisados de que não nos receberiam.
 
E o golpe não termina nem com o fim licitação de emergência, feita por convite. O representante da empresa de coleta de lixo explica como uma fraude pode continuar, mesmo em uma concorrência aberta ao público. “As empresas que vão participar desse pregão são as empresas que a gente vai fechar, entendeu? Você vai fazer a retirada do edital aqui. Você pode disponibilizar o edital na internet. Mas a retirada do extrato tem que ser aqui. Aí, quando ele retira, tu vai me dizer quem está retirando, entendeu? E deixa o resto com a gente. Aí a gente vai nas pessoas, cara, aí monta tudo, entendeu?”, explica Sarres.  O repórter do Fantástico pergunta por que uma empresa entraria para perder na concorrência.
 
“Porque existe uma mesa. Pode acontecer. Mas existe uma mesa, você pode ter certeza. Difícil dar errado”, garante Sarres.
 
O que ele chama de mesa é um acordo para fraudar as concorrências. Nós fomos à sede da Locanty. O gerente Carlos Sarres negou envolvimento nas fraudes.
 
Carlos Sarres: Desconheço completamente. Isso chega a ser fantasioso.    Fantástico: O senhor não oferece de maneira alguma suborno para o funcionário público.
 
Sarres: De maneira nenhuma.       Fantástico: O senhor não vem com a licitação já preparada?   Sarres: De maneira nenhuma.
 
Por email, a Locanty informou que afastou temporariamente o gerente Carlos Sarres.
O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, que é um dos principais responsáveis por combater a corrupção nos órgãos federais diz que em oito anos mais de três mil funcionários públicos foram punidos. Ele defende que haja também maior rigor para os maus empresários.
“Existe uma noção pré-concebida contra o funcionário público, que ele é o mau, ele é o corrompível. Enquanto que o empresário, o setor privado, é puro, é eficiente, é eficaz. Associada à noção de que a empresa tem que entrar nesse jogo, porque senão ela não leva vantagem porque as outras vão fazer. Isso distorce o mercado, distorce a competição e no longo prazo prejudica todo mundo”, comenta Jorge Hage, ministro da Controladoria Geral da União.
“A pessoa que rouba da saúde deveria ter o dobro da pena, porque quando você rouba o dinheiro da saúde, você mata as pessoas”, diz Edmilson Migowski.
 
Eles não sabiam que estavam sendo filmados. Mas sabiam bem o que estavam fazendo.
 
Veja a Matéria completa e o Vídeo em:
 
3.2 Cerra vai aparecer no Fantástico? O Kamel vai deixar? – Paulo Henrique Amorim – 20/3/2012
Amigo navegante envia os seguintes documentos:
 
Paulo,
 
No domingo a Fantástico mostrou a reportagem que um repórter se fazia passar como gestor de compras de um hospital.A matéria está sendo repercurtida em todos os programas da Globo.

O fato novo é que uma das empresas envolvidas na reportagem tem longa relação com o Serra.O nobre Senador Alvaro Dias está recolhendo assinaturas para promover uma CPI sobre as denúncias, mas a coisa pode acabar caindo no colo do Serra, de acordo com este texto dos Amigos de Presidente Lula.

TV Globo detona José Serra sem querer, ao revelar outro esquema sanguessuga com ambulâncias  - HOSPITAL DO ANDARAÍ – 28/12/99 – TOESA – AMBULÂNCIA E EQUIPE
[3]
O programa Fantástico da TV Globo (de 18/3/2012), montou uma reportagem onde um repórter se passava por gestor de compras do hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (com autorização do hospital), e emitiu cartas-convite para contratação de serviços a algumas empresas.

O repórter gravou reuniões com representantes das empresas onde eles combinam resultados de licitações superfaturadas, pagando propina sobre os contratos……

O Fantástico não falou, mas as empresas foram escolhidas a dedo pela produção por já estarem envolvidas em escândalos de corrupção anteriormente (o que não invalida a reportagem).

Cortina de fumaça… que explodiu no colo de Serra. A denúncia montada atende ao interesse público e é válida a iniciativa do programa em desmascarar empresas corruptas. Só cabe estranhar a TV Globo levar ao ar essa matéria sobre corrupção que não se consuma (pois era uma encenação), e não noticiar os casos de corrupção consumados da semana, como as relações do “professor”-bicheiro Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (DEM/GO) e com o governo de Marconi Perillo (PSDB/GO)…..

Parece até cortina de fumaça para encobrir o escândalo Carlinhos Cachoeira. (Que pode desabar no colo dos genéricos do Cerra – PHA)

A suspeita se reforça quando o Jornal Nacional reeditou a notícia na segunda-feira, acrescentando a informação de que a oposição ao governo federal fala em pedir uma CPI da saúde para investigar. O problema é que a fumaça vai toda em direção a José Serra. Outro esquema Sanguessuga?

A base governista deve assinar em peso essa CPI, pois será mais um capítulo da Privataria Tucana, misturado com sanguessuga 2.

E a primeira convocação deve começar pelas raízes do esquema, convocando José Serra (PSDB/SP) para explicar os contratos assinados entre o Ministério da Saúde (quando Serra era ministro), e a empresa Toesa Service Ltda. (uma das denunciadas pelo Fantástico), para oferecer serviços de ambulância terceirizados aos hospitais federais no Rio de Janeiro.

Eis alguns contratos firmados pela TOESA com o Ministério da Saúde, durante a gestão de José Serra:

HOSPITAL DA LAGOA – 3/98 E ADITIVO DE 5/99 – Prorrogação mais 12 meses manutenção de ambulâncias

INSTITUTO NACIONAL DE TRAUMATO ORTOPEDIA – CONTRATO 14/99 –MANUTENÇÃO VIATURAS 1/10/99 A 30/9/2000

Os contratos acima são apenas uma amostra. Num levantamento completo aparecem bem mais contratos. A pergunta que não quer calar é: as negociações desses contratos quando Serra era ministro foram daquele jeito que o Fantástico mostrou? Quando Serra assumiu a prefeitura de São Paulo, a Toesa foi atrás. Bastou José Serra ocupar a prefeitura de São Paulo em 2005, para a Toesa Service inaugurar filial em São Paulo, atendendo “já de início a Prefeitura” (nas palavras da própria empresa).E continuou contratada pela prefeitura na gestão de Gilberto Kassab.
 
Ministério Público investiga empresa no mensalão do DEM
 
Depois de atender José Serra, a Toesa também abriu filial no Distrito Federal para atender o ex-governador José Roberto Arruda (ex-DEM) e de seu então secretário de saúde Augusto Carvalho (PPS). Estava envolvida no esquema do mensalão do DEM. Arruda e Carvalho gastaram por mês com a Toesa (sem licitação) mais do que gastaram com o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, apoiado pelo Ministério da Saúde) no ano todo de 2009. Prestação de serviços de van e ambulância incluindo equipes.
 
A Toesa também responde processo no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, está envolvida em irregularidades em Natal (RN) e é investigada pelo Ministério Público de Goiás.
 
Em tempo: Empresas denunciadas pelo Fantástico fizeram negócios no Governo Lula/Dilma. Com uma diferença. O Ministro Alexandre Padilha cancelou os contratos e mandou a Polícia Federal atrás. Já o Ministro da Saude José Cerra (o melhor da História deste país, na opinião de Nelson Johnbim …)  … o que fez ele ? – PH
 
Em tempo2: quanto tempo os telejornais da Globo – todos ! – dedicarão às atividades da Toesa no Ministério e na Prefeitura do Cerra ? – PHA
 
Paulo Henrique Amorim  http://www.conversaafiada.com.br
 
1.   3.3 CORRUPÇÃO NO SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO
 
O livro Corrupção e Sistema Político no Brasil foi lançado neste mês de março. A obra recém lançada é considerada a maior coletânea de estudos sobre o tema.
Entrevista com os autores:
 
Spoiler:
 
CC: Os brasileiros avaliam em pesquisas de opinião a corrupção como muito grave, mas essa percepção nao parece pesar na hora do voto. Ou não da maneira como parte dos formadores de opinião desejaria. Por quê? Qual a compreensão dos eleitores a respeito?
Leonardo Avritzer: Em primeiro lugar, vale a pena destacar que houve uma forte mudança na cultura política no Brasil dos anos 1960 e 1970, quando se falava no “rouba mas faz” e se votava em Paulo Maluf, para os dias de hoje. A população brasileira avalia a corrupção como grave ou muito grave em 74% das respostas da pesquisa por nós aplicada e que deu origem ao livro. Vale a pena pensar, porem, por que uma posição contundente como essa não influencia o voto. O mais provável é que a tradição do voto em quem vai ganhar ou em quero é muito conhecido, especialmente para os legislativos locais, ainda seja a principal determinante do voto. Ainda não fizemos a transição de certa indignação difusa com a corrupção para uma situação de o eleitor perceber que ele tem um papel em escolher melhor os seus candidatos.
 
CC: O discurso anticorrupção rende votos? E m que medida? Por que temos sido dominados por um discurso udenista? Fernando Filgueiras: Existe um discurso udenista que procura ressaltar a moralidade e a perspectiva da corrupção no oponente. É uma estratégia antiga no Brasil, mas que no momento atual não tem rendido votos suficientes para a vitória da oposição. O discurso mobilizando a corrupção até levou a última eleição presidencial ao segundo turno e criou dificuldades para o atual governo. O eleitor percebe, no entanto, a corrupção em uma dimensão mais sistêmica, em que ela não depende apenas da condição moral dos políticos, mas da organização do sistema como um todo. Acredito que esta seja a grande novidade a respeito do processo da corrupção no Brasil. Ela não está no político individualmente, mas na organização do sistema. Nesse sentido, quando a oposição mobiliza o discurso da corrupção, isso não necessariamente renderá votos, porque o eleitor muitas vezes tem uma posição indiferente à coloração partidária. O eleitor avalia o desempenho individual do político quanto aos seus interesses. A corrupção pertence a uma ordem de organização do sistema, que precisa ser reformado de forma a minimizar esse problema.
 
CC: O quanto a percepção de que o Estado brasileiro e naturalmente corrupto leva à despolitização do eleitorado? Quais os riscos para a democracia?
 
FF: O processo leva a uma indiferença do eleitorado, por um lado. A desconfiança em relação às instituições representativas é enorme, especialmente o Congresso Nacional e os partidos políticos. As instituições eletivas passam por uma síndrome de desconfiança que as corrói. Por outro lado, a corrupção leva ao fortalecimento das instituições de caráter não eletivo, como, por exemplo, aquelas de auditorias, o Judiciário e o Ministério Público. Em diversas pesquisas feitas por nós, a Polícia Federal aparece no Brasil como a instituição mais confiável e menos corrompida para os cidadãos. Por quê? Porque ela tem atuado em grandes operações contra o crime organizado e contra a corrupção. Essas operações normalmente são cercadas de forte apelo midiático. Quando se poderia imaginar um político ou grande empresário ser algemado no Brasil? O processo modificou a imagem das instituições e tem a corrupção como um dos seus principais ingredientes. O fortalecimento de instituições contra majoritárias tem modificado as democracias. Este é um processo que ocorre também nas democracias consolidadas e tem levado a mudanças na legitimidade do poder. A despolitização ocorre à medida que o próprio discurso reforça a ideia de que todo político é corrupto, que as instituições eletivas têm de ser mantidas sob controle, que o Estado é ineficiente, que o poder corrompe. Esse processo tem impactado fortemente as democracias e modificado o sistema de legitimidade.
 
Avritzer: “Se existe um fenômeno no qual o Estado e o mercado são sócios no Brasil é o da corrupção”
 
CC: A que atribuem essa visão geral do brasileiro de que a corrupção é eminentemente um problema do Estado e do universo político, sem grandes ligações com a esfera privada ou com as práticas individuais de cada cidadão?
 
LA: Há uma tendência no Brasil a se ter uma concepção instrumental do Estado, as virtudes da sociedade seriam do mercado ou da esfera privada, ao passo que os problemas seriam estatais. Nos últimos 20 anos, com a emergência do neoliberalismo e os processos de privatização, essa tendência se acentuou. Se existe um fenômeno no qual Estado e mercado são sócios no Brasil é o da corrupção. E podemos citar diversos episódios recentes para corroborar: escândalos como o do ex-governador do Distrito Federal ou a relação pouco explicada entre o governador do Rio de Janeiro e uma grande empreiteira. De qualquer maneira, as punições ou demissões ocorrem no campo do Estado e as relações pouco claras entre público e privado acabam sendo reconstruídas com outros políticos. Uma mudança qualitativa na corrupção tem de implicar punições de grandes grupos econômicos com fortes relações com o Estado nos casos nos quais a corrupção é identificada.
 
Filgueiras: “O eleitor percebe a corrupção em uma sistmica, em que ela não depende apenas da condição moral do político”
 
CC: Como os senhores avaliam a aprovação da Lei da Ficha Limpa? Acreditam que ela tem algum poder de melhorar a seleção dos representantes políticos? LA: O mais importante da Lei da Ficha Limpa é que ela cria uma nova configuração no combate à corrupção ao introduzir a sociedade civil no debate. A maneira como a lei surgiu, por meio de um movimento de combate à corrupção propondo uma lei de iniciativa popular, foi essencial para que ela não ficasse esquecida em alguma comissão obscura do Congresso Nacional. Esse pode vir a ser também um caminho possível para a tão esperada reforma política. Acho que a Ficha Limpa vai ser capaz de produzir um efeito importante sobre o funcionamento do sistema político na medida em que as pessoas não vão querer ficar de fora do jogo.
 
FF: A aprovação da lei é positiva. Porém, a sua aplicação vai depender não apenas da sua constitucionalidade anunciada pelo Supremo Tribunal Federal, mas também da sua interpretação e consolidação de jurisprudência por parte do Tribunal Superior Eleitoral. A lei é cercada de uma série de controvérsias jurídicas. Mas, no momento da sua aplicação, dependerá de uma série de nuances que surgirão com os casos concretos. Creio que devemos aguardar o próximo pleito eleitoral, em que ela será aplicada, para avaliar melhor o seu impacto na arena política.
 
CC: Como os senhores classificariam o grau de transparência do Estado brasileiro em relação a outras nações?
 
FF: O Brasil é um dos países mais transparentes do mundo. Basta imaginar que o Portal da Transparência, do governo federal, permite o acesso do cidadão comum à aplicação direta dos recursos públicos. A lei de acesso à informação permite que qualquer cidadão requeira informações em tempo adequado. Isso são avanços inegáveis. O gargalo, no Brasil, talvez esteja hoje nos municípios. Mas a própria lei de acesso à informação prevê que os municípios criem os seus portais de transparência. Mas a transparência por si mesma não resulta em eficiência do controle da corrupção, se ela não for punida dentro de todos os princípios da legalidade e da publicidade. Reforçar a publicidade, a nosso ver, é o caminho mais adequado para estabelecer controle sobre a corrupção. Isso significa dar um passo além da transparência, pensando, sobretudo, na criação de uma identidade pública fortalecida, que seja capaz de mudar as práticas com relação ao bem público, tanto na dimensão do sistema político e da gestão pública quanto na dimensão da cidadania.
 
CC: E o financiamento público de campanhas? E le teria por si só um efeito moralizador como pregam seus defensores?
 
LA: 0 financiamento público de campanhas é a grande mudança que pode e deve ser feita no sistema político brasileiro. Há uma justificativa político-moral: as desigualdades que são produzidas pela economia de mercado não devem predominar na escolha das decisões políticas. Um sistema de financiamento público poderia melhorar a composição do Congresso Nacional e permitir separar o joio do trigo na política brasileira. Existem políticos bons e honestos em quase todos os partidos e eles devem ter a possibilidade de financiar suas campanhas de uma forma clara e transparente. Só o financiamento público é capaz de viabilizar esses políticos e criar uma base política não corrupta a partir da qual a legitimidade do Poder Legislativo no Brasil poderá ser reconstruída.
 
3.4 ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO POR VAZAMENTO DE CARTAS, ABALA VATICANO – 26/1/2012 – AGÊNCIA REUTERS - VATICANO
 
O Vaticano foi sacudido por um escândalo de corrupção na quinta-feira depois que a investigação de uma televisão italiana informou que uma autoridade do alto escalão foi transferida após reclamar sobre irregularidade na concessão de contratos. O programa "Os Intocáveis", transmitido na respeitada rede de televisão privada L7, mostrou na noite de quarta-feira o que disse ser cartas enviadas em 2011 pelo arcebispo Carlo Maria Vigano, então vice-governador da Cidade do Vaticano, a seus superiores, incluindo ao papa Bento 16, sobre a corrupção. O Vaticano emitiu uma declaração na quinta-feira criticando os "métodos" usados na investigação jornalística. Mas confirmou que as cartas são autênticas ao expressar "tristeza pela publicação de documentos reservados". Como vice-governador da Cidade do Vaticano por dois anos entre 2009 e 2011, Vigano era o número dois de um departamento responsável pela manutenção de jardins, edifícios, ruas, museus e outros pontos de infraestrutura da minúscula cidade-Estado. Atualmente embaixador do Vaticano em Washington, Vigano disse nas cartas que, quando assumiu o cargo em 2009, descobriu uma rede de corrupção, nepotismo e clientelismo associados à concessão de contratos a companhias de fora com preços inflacionados.
 
TRANSFERÊNCIA
 
Em uma carta, Vigano conta ao papa sobre uma campanha difamatória contra ele (Vigano) promovida por outras autoridades do Vaticano que queriam a sua transferência porque estavam insatisfeitos com as medidas drásticas que ele havia tomado para poupar o dinheiro do Vaticano ao racionalizar os procedimentos. "Santo Padre, minha transferência agora provocaria desorientação e desestímulo aos que acreditaram que era possível limpar tantas situações de corrupção e de abuso de poder enraizadas na administração de tantos departamentos", escreveu Vigano ao papa em 27 de março de 2011. Em outra carta ao papa em 4 de abril de 2011, Vigano afirmou ter descoberto que a administração de alguns investimentos da Cidade do Vaticano havia sido confiada a dois fundos gerenciados por um comitê de banqueiros italianos "que cuidava mais de seus interesses do que dos nossos".
 
No dia 22 de março de 2011, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, informou que Vigano estava sendo retirado de seu posto, embora ele devesse ter ficado no cargo até 2014.
 
 
 GC-ES-ESTADO DE CORRUPÇÃO CONSENTIDA (2)-MAR-2012-

 



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