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Em Defesa Da Atenção Primária E Do Generalista No SUS: Resposta Ao Artigo Do Dr. Pinotti

GUSTAVO GUSSO e ZELIETE ZAMBON.
O generalista no SUS.

Talvez o equívoco mais grave cometido pelo deputado seja o desprezo pela prática do médico de família e comunidade.
 
O ARTIGO do Dr. Pinotti publicado nesta Folha traz dados errados e equívocos conceituais graves. O Programa Saúde da Família (PSF) mantém essa marca que está consagrada, mas desde1998 se tornou uma estratégia de Estado e se consolidou como modelo para reorientação da atenção primária (ou atenção básica) brasileira. No relatório de 2008 da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é citado 18 vezes, sendo o grande destaque justamente o PSF, que é visto como exemplo para outros países.
 
Diversos estudos publicados em revistas científicas reconhecidas internacionalmente comprovam a eficácia da estratégia. James Macinko e colaboradores publicaram um estudo em 2006 demonstrando que o incremento de 10% das equipes do PSF leva a uma queda na mortalidade infantil de 4,6%, só perdendo para alfabetização materna. O Brasil já diminuiu a mortalidade infantil para 20,34/1.000 e, se continuar nesse ritmo, atingirá a meta do milênio já em 2011, com quatro anos de antecedência.
 
Outros dados são igualmente errados. Por exemplo,o Dr. Pinotti diz que o PSF atingiu 43.024 equipes, mas são, na verdade, 29.239, cobrindo 49,44% da população brasileira (dados de outubro de 2008, disponíveis em http://dtr2004.saude.gov.br/dab/localiza-cadastro.php).
Talvez o equívoco mais grave cometido pelo deputado seja o desprezo pela prática do médico de família e comunidade.
 
A medicina de família e comunidade é uma especialidade reconhecida no Brasil desde1981 e é a especialidade que o médico da equipe básica do Programa Saúde da Família deveria ter. Diferentemente do clínico geral, o médico de família e comunidade se prepara por meio de residência médica ou título de especialista reconhecido pela Associação Médica Brasileira para atender problemas freqüentes da população sem distinção de gênero, faixa etária ou órgão afetado.
 
Não é, definitivamente, um amálgama de clínica médica, pediatria e ginecologia. O foco é a pessoa dentro do contexto familiar e comunitário.
No dia 5 de dezembro de cada ano, comemora-se o dia do médico de família e comunidade.
O número de programas de residência médica em medicina de família e comunidade tem crescido exponencialmente. De cinco programas em 1998, passou a 78 em 2008, mas o número ainda é insuficiente.
 
O PSF não é inspirado apenas em Cuba, como sugere o artigo do Dr. Pinotti. Cuba seguia o modelo de policlínica com internista, ginecologista e pediatra desenvolvido pelos bolcheviques na antiga União Soviética e defendido pelo Dr. Pinotti até 1985. Só então passou a contar com o médico de família com formação adequada como primeiro contato do paciente com o sistema de saúde.
 
A Europa ocidental, e especialmente a Inglaterra, é precursora desse modelo, que tem como objetivo não apenas otimizar custos mas, principalmente, aprimorar o acesso do paciente de forma longitudinal (ao longo da vida), coordenada e integral.
 
Para isso, é necessária muita tecnologia, não aquela dos tomógrafos e exames laboratoriais, que também são fundamentais quando bem usados, mas conhecimento científico apropriado à atenção primária, relação médico paciente e trabalho em equipe. Inglaterra, Portugal, Espanha, Noruega, Suécia, Holanda, Canadá, Dinamarca e Austrália são alguns dos países com sistema de saúde público forte que adotam o modelo há alguns anos.
 
A pesquisadora Barbara Starfield, professora Emérita da John Hopkins University, tem demonstrado que países com maior proporção de médicos de família e comunidade em relação ao total de médicos têm melhores resultados.
 
Uma das maiores falácias em saúde a que o artigo do deputado Dr. Pinotti recorre é “a pessoa pode eliminar a incerteza especializando-se”. Abordar problemas que não são específicos de maneira focal pode significar o início de uma cadeia de erros que não raro traz conseqüências graves.
 
O Brasil é um pais continental e o primeiro com mais de 100 milhões de habitantes que tenta organizar um sistema de saúde público universal.
 
Os desafios são enormes. Talvez o maior seja a formação adequada de um grande contingente de pessoas para trabalhar em uma área de fundamental importância para o sucesso de qualquer sistema de saúde. Não temos tempo nem podemos nos dar ao luxo de perder o eixo. Todos – médicos, políticos, professores e população em geral – temos que estar unidos em prol desse objetivo comum, deixando de lado vieses corporativistas e pessoais.

GUSTAVO GUSSO, 34, médico de família e comunidade, PSF/Prefeitura de Florianópolis (SC), é presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
ZELIETE ZAMBON, 35, médica de família e comunidade, Prefeitura de Campinas (SP), é presidente da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade.
 
Fonte – Blog Saúde Com Dilma


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