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Diários Latinoamericanos: Bolivia V

As Vozes das Ruas (onde andei…)


Prólogo, em Tempo, ou cenas concluidas de capitulos passados...

1- Fideo, é um tipo de macarrão que eles colocam na sopa, comem com arroz, fazem vários pratos. Havia comido pensando que era macarrão mas é fideo, tudo bem, no Brasil volta a ser macarrao... Mas há uma infidade de cereais aqui (Boliva e Peru) impressionante. Coisas que nunca vi falar. Heranca Inca. E deles derivam varios pratos, estou provando o que posso, sem engordar muito que me impeca de subir e descer montanhas e degraus de obras e ruinas Incas...

2- Conheci os Afrobolivianos, do melhor jeito possível, num Bar chamado Malegria que tem musica afroboliviana toda quinta. A musica vibrante e que nos toca desde dentro lembra o samba carioca; o congado e o candombe mineiros; o afro-reagee do Olodum... tudo misturado com a ritmica, instrumentos e sons indigenas dos Andes... fantastico...

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E estas plantacoes, sao de quem? Perguntei a Mirasol, uma guia de aproximadamente 22 anos, baixinha, tracos indigenas, fluente en quechua, orgulhosa de ser descendente Inca. Como? Nao tem dono! Sao da terra e a terra é de todos que vivem cá! Respondeu com naturalidade.

Estavamos vendo diversas plantacoes em terracos Incas caminhando pelos morros e montanhas de Isla del Sol, onde termina a Bolivia e comeca o Peru. Isla del Sol é uma ilha no Lago Titicaca. Bem deixa eu comecar de novo...

Imaginem aquela cratera que disse que La Paz ficava em seu centro... Agora pensem numa cratera semelhante, no Altiplano Andino ha mais de 3o00 metros de attitude. So que com 8.300 metros quadrados... Sim, dá pra ser 100 km de comprimento e 83 de largura se fosse um retangulo perfeito. Agora inaginem 40 pontas de montanha nascendo do leito dessa cratera. Agora facam chover por milenios e imagnem que isso virou um lago. Isso é o Titicaca, um lago de 8300 mestros quadrados, a 3800 metros de altitude com 40 ilhas onde uma delas é a Ilha do Sol.

Da praia de Copacabana, margem do lago, parece com Parati: um mar lindissimo com montanhas cercando e diversas ilhas espalhadas. Correndo esse mar de barco so parece mesmo com Titicaca. Se Pero Vaz de caminha comparou o litoral da Bahia com o paraiso, os Incas tinham certeza que o paraiso é o Titicaca (titi puma – animal sagrado para os Incas – em aymara; Caca, rocha em quechua: Pedra do Puma! Segundo as lendas Incas, o mundo comecou nesse lago, nessas ilhas.

Viracocha, o Deus Inca que de uma pedra mostrada a nós pelos guias, criou um filho, o Sol, e uma filha, a Lua, proferiu que o primeiro que acordasse ganharia os ceus e seria o maior! A Lua acordou primeiro e ganhou os céus, deixando uma pegada na terra mostrada atentamente pelos guias. O Sol, indignado, desafiou o designio e tambem ganhou os ceus (deixando outras duas pegadas ainda maiores). Em vinganca roubou o brilho da lua e a deixou branca e sem brilho proprio. Mirasol, de pele vermelha, deu uma rizadinha quando disse isso insinuando uma certa pirraca com o fato dos brancos serem apagados nao terem brilho proprio, pequena vinganca 500 anos depois... Viracocha fez ainda as estrelas, as mulheres e os homens...

Ali na Ilha, varias obras e ruinas da civilizacao Inca. Belezas e descobertas que tem me tirado do chao e me feito pensar e sentir o mundo de outro jeito. Ainda mais agora que estou no Peru, depois de um intensivo em Cusco e no caminho Inca que termina, para nos, em Machu Pichu. Mas isso é tema para outros diários, quica os Diarios Peruanos.

O que vive dos Incas nos dias de hoje na Isla del Sol é a lingua, o quechua, as tecnicas e instrumentos de agricultura, a propriedade coletiva, a vida e trabalho de campesinos montanheses agricultores e criadores de tudo quanto é bicho e rebanho.

Cinco horas da tarde, sol ameacando se por, centenas de campesinos, cholas, cholos e cholitos caminhando nos terracos das montanhas se dirigindo para os vilarejos com casas feitas de pedra e barro... Passado e presente se encontram, algum link se faz entre a alma e o coracao que nos faz flutuar e pensar longe... So vendo e sentindo para saber o que é...

Na ilha, em suas montanhas, tanto na parte norte quanto sul, escolas para as criancas: governo da Bolivia. Nas casas de Isla del Sol ou Copacabana: “Evo con el pueblo”; “MAS avanca!” A identidade daquele povo com o chamado “processo de cambio” esta nas casas, em adesivos, camisas escritas “evo-lucion” e miniaturas e relogios com a figura do primeiro presidente indigena da Bolivia.

Sim, mas aí, em El Alto, no campo boliviano de maioria indigena tudo bem, mas e em La Paz, Heider? Em La Paz.... Chego com um olhar para a mudanca. A mudanca que eu pre-concebi. Buscava algo como encontrei na Venezuela: o pais em polvorosa, dividido, falando de politica todo o tempo, os jornais em luta, marcas das acoes e obras do governo nas ruas, gente em passeata por e contra todo o tempo...

Nada. Parecia que nada se passava na Bolivia... Perguntava as pessoas: como estao as coisas? E esse novo governo? As coisas estao mudando? As pessoas diziam que nao, que as coisas nao estavam mudando. A vida esta melhor? “Lo miesmo”... laconicamente davam por respondida a minha indagacao.

Mudei de pergunta: que estao achando do governo Evo Morales? Votaram nele no plebicito revogatorio (aqui, como na Venezuela, na metade do madato, pode-se confirmar ou rejeitar o seguimento do governo de quem voce elegeu... na Venezuela contitucional, aqui um acordo com a oposicao e prova de forca de Evo que foi confirmado com mais votos do que aqueles que recebeu em sua eleicao)? Votarao nele na re-eleicao?

Agora sim, as respostas vinham... Um ambulante disse que estava no mesmo, nao estava gostando nem desgostando, mas que votaria nele pela terceira vez porque nao havia outro melhor. E a vida, melhorou ou piorou? Perguntei. Piorou, os precos estao mais altos e estamos ganhando o mesmo, respondeu. E o governo fez algo de bom? Perguntei. Tem cuidado do povo indigena, valorizado e garantido terra a essas pessoas. Para as pessoas do campo, para essas que vivem da terra esta sendo bom, para nós nao, respondeu mais uma india para mim que nao era india para ela mesma. E a educacao e a saude? Insisti. Para as criancas tem sido bom, escolas e um bolsa que paga no fim do ano para todos os niños... Para os idosos tambem. Tem tambem feito postos de saude com medicos estrangeiros, mas perto da minha casa nao ha nenhum... ainda tenho que pagar e pegar longas filas...

Outros na rua me completaram as informacoes, depois de muitas perguntas... Quase todos confirmaram que nunca um governo cuidara tanto das criancas e dos idosos. Para os niños: construcao de escolas, garantia de atendiemento a saude ate os 5 anos e uma bolsa de 200 bolivianos, no fim do ano, para todas as criancas que estao estudando em escola publica. Para as personas mas grandes: atencao a saude gratuita, uma bolsa, tambem no fim do ano, de 1800 ou 2400 bolivianos para os idosos que sao, respectivamente, aposentados e nao aposentados.

Na Bolivia, saude e aposentadoria nao é direito de cidadania, é seguro quem tem que ser pago a vida toda para ter acesso. A Bolivia é como o EUA hoje ou o Brasil pre-constituicao de 1988. “Veja estas pessoas, todas quando pararem de trabalhar terao que pedir esmolas nas ruas”, me disse um feirante apontando para as pessoas de um grande mercado publico de La Paz. A nova Constituicao propoe uma mudanca nisso, mas desde ja, o governo complementa a aposentadoria de quem tem e garante uma ajuda a quem nao tem.

Uma mae, tambem ambulante, fa numero um de Evo, como me disse, afirma que as mulheres gravidas tambem nunca foram tao bem tratadas: o pre-natal é garantido e gratuito, todos exames e medicacoes, o parto, ate 6 meses no pos parto... isso nunca aconteceu, nunca meu filho, tudo era pago e nos nao podemos pagar... disse emocionada. Continuou: “no referendo” para Aprovacao ou Rejeicao da Constituicao debatida e aprovada no Congreso Nacional “veremos quem esta com Evo e quem esta contra”, completou firme e desafiadora, imaginando fazer parte de uma maioria que nesse ato se mostrará esmagadora e definitiva.

Nas diversas conversas percebi que a palavra mudanca nessas terras nao é usada a toa. Mudanca amigo, so em 15 ou 20 anos, sao decadas de coisas que precisam ser desfeitas, nao se muda nada em 3 anos, mas acreditamos nele, é o melhor que há, me disse um feirante me fazendo cair a ficha. Perguntava sobre mudancas... para eles mudancas nao existem ainda, mas conhecem as acoes do governo, aprovam e confiam na pessoa e ideais de Evo Morales.

A identificacao é com Evo, algo parecido com o que ocorre no Brasil com Lula. As pessoas confiam nele, tem uma identificacao com ele, citam suas frases e rememoram partes de seus discursos. Evo disse que nao vai tirar nada de quem suou para conseguir o que tem, mas aquele que tem muito e gracas ao trabalho dos outros, esse vai ter que contribuir mais para que todos tenham uma vida digna, me disse outro taxista. Companheiro acredito muito nisso, esses sao ideais socialistas que eu compartilho e defendo, eu disse emocionado com aquela fala inesperada. Sim, Evo diz isso e acho justo, tem que ser assim, completou.

Pude ver nos jornais que Evo faz um discurso simples, popular, cheio de referencias na cultura desse povo, e, fundamentalmente, ideologico. Associa as concepcoes indigenas e valores humanistas e mesmo religiosos aos ideais, valores e projeto socialista (ajudar o proximo; cuidar do outro e da terra; tirar de quem tem muito para garantir a quem nao tem; todos devem viver bem, o Estado tem que dar condicoes para isso, etc). Nao ha dupla mensagem para o povo, em suas entrevistas coloca sua vida, valores e acoes como testemunho coerente daquilo que luta e defende. A forca, simplicidade e efeito etico disso é de encantar. O povo reconhece, se identifica, confia e defende.

O MAS esta presente nos resultados das votacoes, nas pichacoes, nos movimentos organizados, na única passeata que participamos mas tambem nas que foram noticiadas pelos jornais, mas nao na boca das pessoas que conversamos. A referencia é Evo!

Contudo, me chamou a atencao o quanto o povo Boliviano é inteirado das acoes do governo e tambem do que ocorre na politica. Bem, conhecer as acoes é um indicador de que politicas estao sendo dirigidas às classes populares (maioria das pessoas com quem conversamos) e que elas estao reconhecendo. Mas saber da política, por que? Como é isso? Estamos sempre conversando, falando disso, ouvindo sobre isso no radio, disse o taxista. As pessoas acompanham, mas de longe. Nao se mobilizam, sao passivas, nao entendem que momento historico estamos. Aqui na Faculdade de Direito, embora a maioria aprove o “proceso de cambio” só 1/5 dos estudantes se movimentam mesmo, vao pras atividades, se envolvem nos projetos, vao pras ruas, me disse indignada, depois de uma aprsentacao de filme com debate, a lider do Centro Academico de uma faculdade pública de Direito com 12 mil alunos... Sorriso... A gente fica sabendo, me disse a feirante fa de Evo. O fato é que todos, com mais ou menos vontade, com mais ou menos informacoes ou vivencias, sempre me diziam sobre o governo e sua acoes.

Uma senhora me disse que a vida esta mais cara e que nao tem emprego, perguntei. Mas os precos altos sao resultado da crise mundial. Nao é so na Bolivia. Como está no Brasil? O governo aqui esta fazendo o que pode. Mas ha mais emprego sim. Disse aquele taxista que sempre escuta o radio.

O governo esta recuperando nossa riquezas: o gas, o petroleo, as empresas, tudo aquilo que nos foi roubado. Completava as pessoas.

E a oposicao, e Santa Cruz? Perguntei. Sao do contra, sempre se opuseram aquilo que é para todo o pais, respondeu um. Sao ricos, donos de terra, nao querem compartilhar suas terras, disse outro.

Foram a partir dessas pistas que busquei informacoes na internet, nos jornais, em outras conversas, nas entrevistas com a menina do CA de Direito, com coordenadores do Ministerios da Saúde, com o Vice-Presidente da Bancada do MAS no Congresso, o Deputado Federal Jorge Silva e nos livros e entrevistas escritas que adquiri e li.

Foi a partir dai que tentei ver o que é política atual, projeto e proposta contida na nova constituicao. Foi nessa busca que descobri que aqui IDH também é um imposto sobre os hidrocarburetos (gas e o petroleo) que promove a distribuicao de renda, que os MAS compreende que o pais tem 3 economias e propoe um pais que desenvolva as tres, que a Constituicao busca construir um Estado de bem estar Social mas fundamentalmente Refundar a Bolivia como Republica Democrática e Plurinacional (ou seja, reconhcendo as 32 etnias que convivem nela: umas melhores, outras piores e a maioria, sobrevivendo com o pouco de diretos que arrancam na marra no dia a dia...) etc etc etc...

Ma isso é assunto para novas páginas desse diário....

 



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