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Nova ameaça da coqueluche

19 de novembro de 2014
Fonte: O Globo
 
 
SURTO NO BRASIL E NO MUNDO Fiocruz diz que aumento de casos pode estar ligado a bactéria mais tóxica; governo discorda
 
 Flávia Milhorance
 
 
Um aumento expressivo do número de casos de coqueluche no Brasil tem alertado governos e cientistas: o crescimento foi de cerca de dez vezes em apenas quatro anos - passando de 605 casos em 2010 para 6.368 em 2013, assim como de 18 para 109 mortes neste período, segundo dados do Ministério da Saúde. E a descoberta de uma nova linhagem mais tóxica da Bordetella pertussis, bactéria causadora da doença respiratória, é uma hipótese que já vem sendo apontada como possível causa desta curva ascendente em outros países, já que o problema não é apenas brasileiro. Agora, a partir da técnica de sequenciamento genético, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também encontraram esse tipo aqui no país.
 
 
 
- Vínhamos notando a reemergência da coqueluche em países com programas de vacinação estabelecidos, como Holanda, Reino Unido, EUA e Austrália. Há uma preocupação geral com o fenômeno porque a doença estava controlada desde os anos 60 - explicou Ana Carolina Vicente, coordenadora da pesquisa e chefe do Laboratório de Genética Molecular de Micro-organismos da Fiocruz, que coletou dados de surtos da doença em Alagoas, Pernambuco e no Rio Grande do Sul.
 
 
No mundo, o aumento foi de 127 mil casos em 2006 para quase 250 mil em 2012, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Só em 2012, foram 47 mil casos nos EUA, 12 mil no Reino Unido e 24 mil na Austrália. Segundo a pesquisadora, estudos internacionais já verificaram que há diferenças no código genético destes microorganismos em relação aos de décadas passadas, que circulavam no período do desenvolvimento dos programas de vacinação. A principal alteração nessa linhagem é a mutação no gene que ativa a produção da toxina pertussis.
 
 
 
- Em outras palavras, a bactéria produziria mais toxinas e, por isso, estaria mais forte afirma Ana Carolina. - Este dado serve para podermos discutir se a vacina da qual temos disponibilidade é eficaz. A princípio parece que sim, mas provavelmente o esquema de vacinação precisa ser modificado, precisando haver reforços de doses ao longo da vida.
  
 
Atualmente, a vacina é aplicada em cinco doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida do bebê, e depois há um reforço aos 1,5 ano e 4 anos da criança.
 
 
 A pesquisadora ressalta que o monitoramento frequente dos micro-organismos circulantes através do sequenciamento genético pode prevenir surtos e prejuízos maiores à população.
 
 
 
- É importante sabermos o patógeno que está circulando antes de qualquer decisão ser tomada, inclusive porque a tecnologia de sequenciamento genético é hoje acessível. Os organismos evoluem muito rapidamente, o que pode tomá-los imunes às vacinas - defende Ana Carolina, lembrando que o genoma da vacina brasileira em si ainda não foi publicado, o que daria mais informações sobre a evolução da doença no país.
 
  
O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, questiona o estudo da Fiocruz e garante que a explicação para o surto brasileiro não é o surgimento de uma cepa mais tóxica.
 
 
 
- Esta hipótese foi levantada em vários países, mas no nosso caso a explicação para o aumento de doentes aponta para outro lado afirma Barbosa. - A grande maioria dos casos (87%) está concentrada em bebês menores de 6 meses, que ainda não foram totalmente vacinados. Para aquela hipótese ser verdadeira, o aumento deveria ser entre os casos de vacinados, como ocorreu em alguns países e não no Brasil.
 
  
PROTEÇÃO DE VACINA É TEMPORÁRIA
  
 
Barbosa diz, no entanto, que a proteção da vacina da coqueluche é limitada, por isso, segundo ele, pode estar havendo um aumento no número de adultos suscetíveis, que precisariam de um reforço da dose da vacina. Geralmente, são casos assintomáticos, mas que podem ser transmitidos para indivíduos mais vulneráveis.
 
 
 
Há dois tipos de vacina para a coqueluche em uso. Administrada no Brasil, a vacina celular é desenvolvida a partir da própria bactéria inativada e é usada em combinação com imunizantes para o tétano e a difteria. Segundo a OMS, o imunizante é eficiente e relativamente barato, mas tem sido associado a reações adversas em adolescentes e adultos. Por isso a indicada para esse grupo é a vacina acelular, que contém apenas alguns componentes purificados da bactéria. Essa versão é mais cara e de difícil produção, mas praticamente substituiu a vacina celular em países mais desenvolvidos, como Austrália e EUA.
  
 
Anteontem, o Ministério da Saúde anunciou a compra de quatro milhões de doses da vacina acelular para serem aplicadas em 2,9 milhões de gestantes. Isso evitaria que a mães transmitissem a doença para seus filhos recém-nascidos, que estão no grupo de risco. Jarbas Barbosa estima que, com essa medida, até o final de 2015, o número de casos seja consideravelmente reduzido, já que sua eficácia é de 91%. Quando questionado sobre a qualidade melhor da vacina acelular, Barbosa diz que há controvérsias e que o fornecimento dela ainda é irregular no mundo. Ele também não considera necessário reforçar a dose da vacina para a população adulta em geral.
 
 
 
- Esta estratégia de controlar a coqueluche em menores de 6 meses é eficaz - afirmou.
 
  
Para Flávio Rocha, do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos e colaborador da pesquisa da Fiocruz, além da questão da cepa mais resistente, a perda da imunidade após dez anos da aplicação da vacina e o aumento de portadores assintomáticos precisam de mais atenção do governo:
  
 
- A coqueluche não é mais uma enfermidade da infância, ela atinge todas as idades afirma o pesquisador.
 
  
Rocha ainda alerta para a necessidade de capacitação de profissionais de saúde para identificar a doença. Numa pesquisa com 180 médicos de seis unidades de saúde do Rio, 42% deles tinham dificuldade de fechar o diagnóstico da coqueluche.
 
  
Números
 
  
605
 
 
CASOS DE C00UELUCHE
  
 
Foram registrados em 2010, contra 6.368 em 2013 no Brasil
 
  
250
 
 
MIL CASOS DA DOENÇA NO MUNDO
 
  

Em 2012, segundo a OMS, sendo 47 mil nos EUA 



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