Brasil pode adotar segunda entrevista, no desembarque, de viajantes vindos de países atingidos; medida foi tomada por EUA e Inglaterra
Ligia Formenti
Ministério da Saúde deve definir até a próxima semana se altera a política de controle de passageiros procedentes de países com surto de Ebola. Reuniões com representantes de aeroportos, integrantes da pasta e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão sendo realizadas para avaliar a adoção de uma segunda entrevista para pessoas que chegam ao País vindas da Guiné, de Serra Leoa ou da Libéria. Medida semelhante passou a ser adotada nos Estados Unidos.
"Estamos estudando eventuais mudanças. Queremos implementar algo que tenha efetividade, não vamos perder tempo com factoides, com medidas inócuas", disse o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. Para tomar a decisão, o governo federal acompanha o rumo das discussões no cenário internacional, enquanto traça um perfil detalhado sobre como e quando os pacientes procedentes dessas regiões chegam ao País.
No primeiro semestre, cerca de 15 pessoas procedentes dos três países desembarcaram no Brasil - a maioria no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. "É um número muito pequeno, sobretudo quando comparado com o movimento do aeroporto. Todos os dias, chegam 30 mil passageiros de voos internacionais", disse Barbosa. O surto já matou mais de 4,5 mil pessoas.
Não há voo direto dessas regiões para o Brasil. Geralmente, os viajantes fazem escala no Marrocos. "Somente Estados Unidos e Inglaterra adotaram medidas semelhantes. E ambos têm voos diretos. Os demais países avaliam as medidas mais apropriadas", afirmou Barbosa.
Transtorno. O secretário descartou a possibilidade de a entrevista ser realizada no avião. "Temos preocupação em não tumultuar."
Barbosa considera fundamental a entrevista feita antes de o passageiro embarcar, ainda nos países africanos. Depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar emergência sanitária mundial por causa da epidemia, em agosto, aeroportos dos três países passaram a analisar passageiros que embarcam em voos internacionais. Desde então, cerca de 70 mil pessoas foram entrevistadas e 76 não puderam viajar.
Caso a entrevista no desembarque seja de fato adotada, ela terá como objetivo maior reforçar para o passageiro a necessidade de ele procurar um serviço médico caso apareçam sintomas:febre, diarréia, vômito e hemorragia. "Acreditamos que seja muito pequeno o risco de o paciente liberado na primeira entrevista apresentar algum sintoma 24 horas depois", disse. O secretário ressaltou, no entanto, que, mesmo que a medida seja adotada, ela não tomará o País imune ao Ebola. "Nenhuma ação isolada é suficiente. Nenhuma barreira, por mais bem feita, é infalível."
Protocolo. O ministério está reforçando também as orientações para as secretarias estaduais e municipais. "O sistema está alerta. Não vamos criticar eventuais avisos que não se enquadrem em casos suspeitos. Mas é fundamental que profissionais estejam familiarizados com casos suspeitos e com todo o protocolo que deve ser acionado", afirmou Barbosa.
Cuba
Em editorial publicado ontem, o jornal The New York Times elogia Cuba por enviar médicos para combater o Ebola na África e critica o governo americano por não juntar forças à ilha.