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Sem médico no fim da fila

18 de setembro de 2014
 
Pablo Jacob / Agência O Globo
 
A emergência do Hospital de Bonsucesso: aluguel dos contêineres onde o setor funciona, enquanto as obras não são concluídas, custa R$ 13 milhões por ano
Estudo da Defensoria Pública diz que faltam 1.226 profissionais nos hospitais federais
 
Gajbriela Lapagesse
 
Um levantamento feito pela Defensoria Pública da União sobre os seis hospitais gerais federais do Rio revela que a saúde fluminense pede socorro. Os dados mostram que há um déficit de 1.226 médicos - ou seja, 28% do quadro necessário de 4.354 profissionais. O defensor público Daniel Macedo, que apresentou o trabalho ontem, ressaltou que a situação é ainda mais grave porque, entre 2010 e 2013, o Estado do Rio perdeu 4.621 leitos em toda a rede pública.
 
O último concurso público para contratar médicos para as unidades federais foi realizado em 2010, e não existe previsão para um próximo, diz o levantamento. O salário-base pago a um médico é de R$ 2.200, de acordo com o Sindicato dos Médicos do Rio. Segundo Júlio Noronha, diretor da entidade, as especialidades com mais carência de profissionais são anestesia, pediatria especializada, anatomia patológica e clínica de pronto-socorro.
 
- Em 40 dias, 22 clínicos pediram demissão do Hospital de Bonsucesso. Eles trabalhavam na emergência. Eram médicos que recebiam muito pouco e tinham cada vez mais gente para atender. Pagando mal desse jeito, não há como fixar os profissionais - disse Noronha.
 
Bonsucesso e Andaraí, os piores
 
Daniel Macedo disse que, na rede federal, os problemas mais graves foram encontrados nos hospitais de Bonsucesso e do Andaraí. Também foram avaliados os hospitais dos Servidores, Cardoso Fontes, de Ipanema e da Lagoa. Além da falta de médicos, a defensoria verificou que insumos e medicamentos estão escassos. Outro problema é que pacientes são atendidos nos corredores e até no chão.
 
- Os hospitais federais do Rio estão sucateados - disse o defensor.
 
De acordo com o levantamento, existem hoje 13.851 pessoas na fila por uma cirurgia nos seis hospitais federais avaliados. Daniel Macedo disse que, no Hospital de Bonsucesso, desde novembro de 2012 as obras no setor de emergência estão paradas. Em 2011, foram instalados no local três contêineres para a emergência funcionar. Era para ser uma solução provisória, mas eles continuam sendo usados.
 
A Defensoria Pública informou que o aluguel dos contêineres custa, no total, R$ 318 mil por mês, o que, de 2011 até hoje, soma cerca de R$ 13 milhões. Cada unidade teria capacidade para atender por dia 30 pessoas. Mas, de acordo com o levantamento, são atendidas de 65 a 80. Segundo Daniel Macedo, a obra na emergência custaria R$ 8 milhões aos cofres públicos.
 
- O Hospital de Bonsucesso recebe R$ 160 milhões da União por ano. Por que as obras da emergência não foram concluídas? Pacientes são atendidos em cadeiras, não há leitos - afirmou o defensor, acrescentando que uma denúncia sobre a situação do hospital foi encaminhada à Polícia Federal.
 
De maio de 2013 a setembro deste ano, 187 transplantes renais foram feitos no Hospital de Bonsucesso. Já a área de transplante hepático segue fechada, e os pacientes estão sendo transferidos para outras unidades, até mesmo particulares.
 
Uma hora só para obter informação
 
Quem precisa dos serviços do hospital sofre. A dona de casa Quitéria Morais da Costa, de 62 anos, prestou socorro ontem ao o mecânico Jorge Maximiniano, de 75, seu vizinho, que tem problemas na próstata. Com dores e precisando de atendimento, o paciente esperou mais de uma hora na porta da emergência do Hospital de Bonsucesso só para conseguir uma informação.
 
- Ninguém fala nada direito. Viemos de Jardim Metrópole, em São João de Meriti. Não vou deixar meu vizinho aqui sozinho. Estamos esperando há mais de uma hora. Disseram para a gente que ele não vai poder ser atendido aqui, porque a emergência está cheia demais e os médicos estão sobrecarregados. Estão pedindo que ele seja levado para o Hospital Souza Aguiar contou a dona de casa.
 
Também avaliado como uma das piores unidades federais do Rio, o Hospital do Andaraí ficou sem diretor por dois meses e recebe R$ 100 milhões da União por ano. De acordo com a Defensoria Pública, foi pedida à Vigilância Sanitária uma avaliação das condições de higiene e funcionamento da unidade no início deste ano. Dos oito elevadores do hospital, cinco estão parados. Nos outros, são transportados, às vezes ao mesmo tempo, pacientes, alimentos, remédios, lixo e cadáveres.
 
Além disso, foram encontrados ratos no setor de oncologia, mofo, buracos no teto, sala de raios X sem isolamento de chumbo e sala de espera do CTI com medicamentos no chão. Depois da posse da nova direção, foi enviado um termo de ajuste de conduta, e o prazo para a assinatura é de 20 dias.
 
- É um crime o que estão fazendo com a população do Rio de Janeiro disse Júlio Noronha. - Um verdadeiro genocídio. A própria Vigilância Sanitária disse que a unidade não apresentava condições para executar procedimentos de saúde.
 
O estudo da Defensoria Pública também afirma que, por dia, morrem seis pessoas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) por não haver leitos suficientes de CTI não só na rede federal, como na estadual e na municipal.
 
- Nas UPAs, existe porta de entrada, mas não há porta de saída - disse Daniel Macedo. - Se nada for feito, mais pessoas poderão vir a óbito.
 
Também considerando toda a rede pública do Rio, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), Sidnei Ferreira, disse que o déficit de leitos é de 150 a 200 por dia.
 
- Pelo menos um terço dos pacientes precisa desses leitos. Isso significa piora no quadro de saúde deles, e muitos podem vir a morrer - explicou.
 
Os hospitais Clementino Fraga, Gaffrée e Guinle e Antônio Pedro serão os próximos a serem fiscalizados pela Defensoria.
 
Ministério diz que tem contratado
 
O Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que vem contratando profissionais para a rede federal do Rio. Segundo o órgão, os seis hospitais gerais avaliados hoje contam com 3.128 médicos e 2.023 leitos. Ainda segundo a nota, foram habilitados 359 novos leitos de UTI no estado. Sobre o setor de emergência do Hospital de Bonsucesso, o ministério disse que as obras estão "em fase de execução de projetos complementares e readequação orçamentária". Nos contêineres, diz a nota, só este ano já foram realizados 36.481 atendimentos.
 
Já a Secretaria municipal de Saúde informou que houve aumento do total de leitos. Atualmente, de acordo com o órgão, a rede da prefeitura conta com 5.011 leitos, dos quais 1.141 foram abertos na atual gestão. A secretaria informou ainda que é a responsável pela Central de Regulação de Leitos, o órgão que determina para onde os pacientes devem ser transferidos depois do atendimento feito na UPA. No entanto, se os leitos de UTI estiverem ocupados, não há o que ser feito.
 
Também em nota, o governo do estado disse que sua rede tem 1.058 leitos de UTI. O número representa, afirma o texto, quase quatro vezes o total - 260 - existente no início da atual gestão. Já a Central Estadual de Regulação, segundo o estado, tem à sua disposição apenas leitos próprios e contratados para encaminhar os pacientes destinados à UTI. O governo admite a dificuldade de conseguir leitos de terapia intensiva para todos os pacientes.
 
Números
 
4.621
 
LEITOS
 
Número de vagas que os hospitais públicos do Estado do Rio perderam de 2010 a 2103, segundo o Conselho Federal de Medicina
 
R$ 2.200
 
DE SALÁRIO
 
É quanto recebe um médico na rede federal, segundo o sindicato da categoria
 
R$ 318 MIL
 
DE ALUGUEL
 
Total pago por mês pelos três contêineres onde, desde 2011, funciona a emergência do Hospital Federal de Bonsucesso
 
1.226
 
MÉDICOS
 
É o déficit nos seis hospitais gerais federais, segundo a Defensoria Pública. O total hoje é de 3.128
 
"Disseram para a gente que ele não vai poder ser atendido aqui, porque a emergência está cheia demais e os médicos estão sobrecarregados"
 
Quitéria Morais da Costa
 
Dona de casa que levou um vizinho ontem ao Hospital Federal de Bonsucesso
 
Fonte: O Globo


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