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Bem no alvo para combater o câncer

02 de setembro de 2014
 
Personalização da medicina para um tratamento mais eficaz contra os tumores preserva as células saudáveis e leva esperança a pacientes
 
» Celina Aquino
 
Belo Horizonte -- O câncer não é mais visto como uma única doença. Técnicas cada vez mais modernas permitem identificar as alterações genéticas que estimulam o crescimento das células cancerígenas de cada tipo de tumor. Com isso, os tratamentos passam a ser direcionados a alvos específicos e os ganhos na oncologia se mostram expressivos. As novas opções terapêuticas levam esperança para os pacientes e indicam que a medicina personalizada, uma realidade em todo o mundo, pode ser mesmo promissora.
 
O tratamento do câncer começou a mudar a partir do Projeto Genoma Humano, concluído em 2003, que mapeou toda a sequência do DNA. Em seguida, surgiram análises moleculares precisas, que permitiram dividir a doença de acordo com a alteração genética relacionada a cada tumor. Já se sabe, por exemplo, que existem mais de 30 tipos de câncer de pulmão. "O câncer está sendo estratificado segundo alterações moleculares passíveis de serem combatidas por medicamentos específicos. É como se estivéssemos tratando doenças completamente diferentes. Entre elas, doenças raras, que atingem 1% dos pacientes", informa o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Evanius Wiermann.
 
Os avanços apontam para o que se chama de medicina personalizada, em que medicamentos são desenvolvidos para combater um determinado tipo de tumor. A terapia-alvo é uma das estratégias que revolucionaram o tratamento do câncer por ser capaz de atingir partes específicas das células cancerígenas, oferecendo menos danos às células saudáveis e reduzindo efeitos colaterais. "Individualizar o tratamento não é nada mais que conhecer melhor a doença, descobrir o que está ocorrendo e usar a droga certa. Se sei que as células cancerígenas precisam de novos vasos sanguíneos para se desenvolver, vou inibir o processo", esclareceu Carlos Barrios, diretor do Grupo Latino Americano de Pesquisa em Oncologia (Lacog) e do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. "Poderei não curar, pois o câncer é inteligente e cria outros mecanismos, mas vou mudar o curso da doença."
 
Os primeiros a se beneficiarem da terapia-alvo foram pacientes diagnosticados com leucemia mieloide crônica, que passaram a ser tratados com inibidores de tirosina quinase, remédios que conseguem destruir a proteína ligada ao crescimento das células cancerígenas. A doença é controlada de tal maneira que os pessoas vivem décadas com qualidade de vida e virtualmente curados. As novas drogas também aumentam a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão originado por uma mutação genética específica. Eles chegam a viver três vezes mais. "Estamos caminhando para descobrir outras moléculas que podem ser alvo de bloqueio. Não quer dizer que vamos ficar sem o tratamento convencional com quimioterapia, mas significa que, às vezes, vamos associá-lo com outros medicamentos", pontua o diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia, Charles Pádua.
 
Como no caso de duas pacientes do centro de oncologia que participam de um estudo internacional para analisar a eficácia de um medicamento oral, testado em estágio avançado de câncer de mama. O tratamento tenta bloquear um mecanismo intracelular intimamente relacionado com a resistência do tumor. "O medicamento está sendo associado à droga convencional para reverter o mecanismo de resistência que é adquirido ao longo do tratamento das mulheres. Em determinado momento, temos que mudar a estratégia porque o câncer fica resistente à droga", explica Pádua.
 
Outra maneira de personalizar o tratamento do câncer é utilizar a imunoterapia, cujas drogas estimulam o sistema imunológico em vez de atuar diretamente no tumor. "Por algum motivo que não conhecemos, os mecanismos naturais de defesa acabam falhando no combate à doença. A ideia é fazer com que o corpo reconheça como estranhas as células tumorais e possa combatê-las", informa Fábio Nasser Santos, oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center.
 
Estudos internacionais mostram resultados promissores em pacientes com melanoma, câncer de pele mais agressivo ligado a uma mutação específica. Até então, não havia opção terapêutica para eles. Ainda não se pode falar em cura no contexto da doença avançada, mas Santos diz que o novo tratamento consegue controlar o câncer por mais tempo. A sobrevida dos pacientes com melanoma que antes era em média de nove a 10 meses pulou para 20 meses com a imunoterapia, ganho significativo para a oncologia.
 
Novas mutações
 
É bem provável que o caminho para a cura do câncer passe pela medicina personalizada. Por isso, o oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center Fábio Nasser Santos lembra que falta aprofundar os estudos de novos medicamentos, pois a solução para o problema não está em simplesmente desenvolver drogas que atuam em determinado mecanismo celular. O desafio, na opinião do especialista, é entender por que certos tratamentos funcionam por um determinado tempo e descobrir uma maneira de combater a resistência do câncer, já que células cancerígenas mais resistentes acabam sobrevivendo e voltam a se multiplicar. Assim, será possível oferecer aos pacientes medicamentos que agem em novas mutações genéticas, permitindo que eles respondam melhor ao tratamento e vivam por mais tempo.
 
Personagem da notícia
 
Curado de um melanoma
 
O diagnóstico se confirmou há nove anos. Ricardo descobriu que uma verruga no braço era sinal de melanoma, câncer de pele mais agressivo. Cinco anos depois, o militar carioca teve que operar para retirar três nódulos nos pulmões e um na coxa direita. Um deles voltou no ano seguinte. Como se recusou a ir de novo para a sala de cirurgia, Ricardo buscou outra alternativa. Começou primeiro pela quimioterapia, mas o tumor voltou a crescer. Foi, então, que os médicos decidiram testar um novo medicamento com probabilidade de 5% de resultado positivo, e o câncer de Ricardo desapareceu. Nem a equipe responsável pelo exame que constatou o sumiço acreditou, pois nunca tinha visto um melanoma regredir. "Ainda existe uma chance de o câncer voltar, mas do jeito que o remédio atacou meu organismo, não acredito. Em novembro, vai fazer dois anos que não estou tomando mais nada", comemora. Ricardo conseguiu fazer o tratamento gratuitamente no A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
 
Ricardo José do Amaral Caldeira, 63 anos, coronel reformado
 
Fonte: Correio Braziliense


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