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O médico e os monstros que habitam o mercado

24 de junho de 2014
 
Por Olga de Mello | Para o Valor, do Rio
 
O mercado sem regulação pode ser o principal responsável pela epidemia de obesidade que ameaça a população mundial, acredita o médico americano Peter A. Ubel, que dirige o Centro de Ciências Comportamentais e Decisões em Medicina da Universidade de Michigan. Balanceando teoria econômica com psicologia, Ubel, que também é um dos fundadores do Conselho de Saúde Global do Fórum Econômico Mundial. Este seu livro, agora em edição brasileira, foi escrito com o objetivo, segundo o autor, de "informar e discutir políticas públicas", numa tentativa de ajudar as pessoas a refletirem sobre o papel do governo em suas vidas.
 
"O mercado contribui para a epidemia de obesidade porque é fomentado por um conjunto de comportamentos humanos. E a obesidade é, em última instância, resultado do comportamento humano. Somos demasiadamente fracos ou mal informados para evitar os alimentos baratos e saborosos, mas prejudiciais à saúde. Além disso, nosso comportamento alimentar é influenciados por uma série de forças psicológicas inconscientes, o que significa que o que comemos é menos frequentemente o resultado de decisões conscientes do que resultado de forças invisíveis", disse Ubel, em entrevista por e-mail ao Valor.
 
"Lamentavelmente, meu livro e outros que tratam de temática semelhante não modificaram dramaticamente o comportamento de ninguém. É difícil romper com hábitos. Em um momento de intensa turbulência econômica, com a maior parte do mundo ainda tentando se recuperar da crise econômica de 2008, as pessoas têm dificuldade para perceber se suas decisões são racionais ou irracionais. A maioria está tentando apenas sobreviver", afirma Ubel.
 
Ubel também entende que as atraentes ofertas do mercado atordoam os consumidores de tal maneira que eles são incapazes de escapar da tentação das armadilhas financeiras e do consumismo. A economia estimula o endividamento - através de cartões de crédito e empréstimos - e também a opção por alimentos industrializados ou refeições congeladas -, geralmente, a preços mais em conta do que produtos nutritivos, que exigem tempo para seu preparo. O sedentarismo é induzido pela variada e atraente programação de televisão, que leva o homem a preferir o lazer barato e dentro de casa, do que exercitar-se ao ar livre, afirma o médico, para quem as "decisões equivocadas" são típicas da natureza humana.
 
Aos governos conhecedores da economia comportamental, caberia ajudar na proteção desses consumidores descontrolados. De forma didática, Ubel traça as origens do pensamento liberal desde Adam Smith, desfiando as leis que regem o liberalismo econômico até chegar à globalização, sempre entremeando com exemplos de leis de oferta e demanda que justificariam a índole rebelde humana. Enquanto se afirma grato por viver numa democracia capitalista, ele aponta as contradições na expansão de mercados livres, a despeito dos problemas de saúde que produtos alimentícios nocivos podem causar. No livro, ele lembra a distribuição de garrafas gratuitas de Coca-Cola para alemães orientais durante a queda do Muro de Berlim, saudada por um articulista da revista "The Economist" como a presença da mão invisível de Adam Smith, já que os representantes da bebida aproveitavam a ocasião festiva para uma ação de marketing. "Será que deveríamos comemorar o aumento de cáries dentárias e diagnósticos de diabetes, que agora se espalham pela Europa Oriental?", indaga Ubel.
 
Quando reuniu material para escrever "A Loucura do Livre Mercado", o médico pretendia dirigir-se especificamente aos libertários radicais, que refutam qualquer interferência do governo nos hábitos de consumo. O ideal, a seu ver, seria o meio-termo entre um Estado que interfere e uma sociedade que se autorregula.
 
"O cidadão se rebela contra o Estado que intervém porque tem convicções baseadas em teorias ingênuas sobre a natureza humana. Essas teorias sugerem que as pessoas escolheriam sempre o melhor para elas. Existem forças inconscientes que determinam nosso comportamento. Temos uma incapacidade natural de seguir projetos de longo prazo, o que influencia nossos hábitos alimentares, o fumo, os exercícios, nossos gastos", diz.
 
Campanhas publicitárias, impostos altos sobre produtos prejudiciais à saúde, além de rótulos advertindo sobre esses perigos podem ser aplicados aos alimentos para reduzir seu consumo, acredita Ubel. Tais medidas, utilizadas com sucesso em diversos países no combate ao tabagismo, não teriam o mesmo impacto sobre a indústria de alimentos, que, para o médico, permaneceria "robusta".
 
"As pessoas podem deixar de fumar, não de comer. A questão é a respeito de qual tipo de alimentos está à venda. Com a combinação certa de pressão social e intervenção do governo, podemos levar a indústria de alimentos a criar produtos mais saudáveis. Esta será uma luta de várias décadas", afirma Ubel.
 
"Loucura do Livre Mercado"
 
Peter A. Ubel. Tradução: Rodrigo Sardenberg. Civilização Brasileira. 280 págs., R$ 52,00
 
Fonte: Valor Econômico


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