São 8,7 litros per capita, contra 6,2 litros no mundo; OMS alerta para 3,3 milhões de mortes anuais
Flávia Milhorance
O consumo de álcool no Brasil está acima da média mundial, segundo um relatório publicado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O brasileiro com 15 anos ou mais bebe 8,7 litros por ano, contra 6,2 litros na média de todos os países. O índice está também acima da média do continente: 8,4 litros. Por causa do abuso do álcool, 3,3 milhões de pessoas morreram apenas em 2012, o que representa 5,9% de todas as mortes. As razões vão desde câncer até violência, mas o documento aponta que o hábito está relacionado ao desenvolvimento de mais de 200 doenças.
O documento ressalta que menos da metade da população (38,3%) consome álcool, ou seja, aqueles que de fato bebem consomem uma média de 17 litros por ano. No caso do Brasil, são 15,1 litros. Apesar dos números desanimadores, a tendência é de redução. Em 2015, a expectativa é que essa média caia para 9,1 litros de álcool por ano. Em 2020, subirá um pouco: 9,6 litros; e em 2025, novamente: 10,1 litros.
O Brasil está na frente de uma série de países, como Cuba (8,3 litros), Itália (9,9), México (12,7), Colômbia (12,9), França (12,9), Canadá (13,2), Estados Unidos (13,3), Chile (14,6), e Alemanha (14,7). Mas está atrás, por exemplo, de Portugal: aqueles que consomem álcool chegam a beber 22,6 litros por ano, em média.
É preciso mais esforços para proteger populações das consequências negativas à saúde por conta do consumo de álcool. Não há espaço para complacência cobrou Oleg Chestnov, especialista da OMS em doenças crônicas e saúde mental.
Homens são mais afetados do que as mulheres. No Brasil, por exemplo, a média é de 13,6 litros entre eles, contra 4,2 para elas.
Existe uma razão biológica. A mulher tem mais tecido adiposo (de gordura) do que o homem, e isto faz com que o efeito do álcool nele seja menor. Três copos de chope para um homem equivalem a um copo e meio para a mulher explica Analice Gigliotti, chefe do Serviço de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa da Misericórdia do Rio. É fato que existe um estímulo maior de consumo entre homens, mas, com a emancipação da mulher, ela passa a copiar os bons e maus hábitos do homem e, por isso, acabou aumentando o consumo de álcool.
A bebida preferida dos brasileiros é a cerveja (59,6%), seguida dos destilados (36%). A apenas 4% têm o hábito de beber vinho. Um dado preocupante é o de casos de abuso do consumo, ou seja, aqueles que relataram ter exagerado no álcool até 30 dias anteriores ao preencherem o questionário do estudo. No mundo, a média é de 7,5%, contra 12,7% dos brasileiros. Com isso, 2,8% da população brasileira é considerada dependente da bebida alcoólica.
O Relatório Global sobre Álcool e Saúde cobriu 194 países e observou o consumo de álcool, seus impactos na saúde pública e respostas de políticas de combate. O estudo descobriu que alguns países estão reforçando suas medidas para proteger as pessoas do consumo exagerado. Elas incluem o aumento de impostos sobre o álcool, a limitação da disponibilidade do produto por meio da imposição de limites de idade e a regulamentação da divulgação.No caso brasileiro, a OMS aponta que não existem restrié o total ções para compra de bebidas mundial alcoólicas, nem o controle deatribuído ao propagandas. Estes fatores são álcool também citados por Analice segundo o " cômo principais agentes para levantamento tornarem o álcool tão popular, da OMS As propagandas de bebida alcoólica estão, inclusive, claramente direcionadas ao público jovem, e isto banaliza o consumo nesta faixa etária a no Brasil tal ponto que uma festa de preferem a adolescentes que não tiver bebida é considerada um mico.
Pais Ficam reféns disto e esquecem que o consumo por jovens é até ilegal. Além de aceito socialmente, o consumo é estimulado - ressalta.
A especialista também critica a fraca fiscalização da venda do álcool para menores e o enorme número de bares próximos uns dos outros:
Seria preciso ter distâncias maiores entre eles, o que diminuiria inclusive o consumo de drogas, pois uma coisa acaba levando à outra.
Pessoas mais pobres são geralmente as mais afetadas pelas consequências sociais e à saúde ocasionadas pelo uso do álcool, segundo o relatório.
Elas frequentemente carecem de cuidados à saúde de qualidade e são menos protegidas por redes funcionais de família e comunidade observou Chestnov.
Globalmente, a Europa tem o maior consumo de álcool por pessoa. A OMS disse que a análise de tendências globais mostra que o consumo tem sido estável nos últimos cinco anos na Europa, na África e nas Américas. Mas tem crescido no Sudeste Asiático e na região ocidental do Pacífico.
Números 5,9 % DAS MORTES é o total mundial atribuído ao álcool,segundo o levantamento da OMS 59.6% DE PESSOAS no Brasil preferem a cerveja 2,8% NO PAÍS são definidos como dependentes do álcool