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Agroindústria brasileira a pleno vapor

10 de abril de 2014
 
Em debate no Brasil Econômico, analistas alertam para a fragilidade do Ministério da Agricultura e outros desafios do agronegócio Aline Salgado
 
Paulo Henrique de Noronha
 
"O Agronegócio vai bem, mas há melhorias que precisam ser tomadas". Afala do presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Antônio Alvarenga representa bem o clima de entusiasmo e cautela que envolve a agroindústria no país. Atividade que mais se desenvolve - responsável por alavancar o resultado de 2,3% do PIB nacional em 2013, com expansão de 7,0% sobre 2012, e que deverá atingir novo recorde este ano, com 188,7 milhões de toneladas produzidas, alta de 0,7% em comparação com a safra passada - o agronegócio é um sucesso nacional, mas ainda não completo.
 
Em debate no Brasil Econômico, o técnico do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Gesmar Rosa dos Santos; o professor-doutor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Jorge Jacob Neto; e o Coordenador de Projetos do Centro de Estudos Agrícolas da FGV/Ibre, Mauro de Rezende Lopes; juntamente com o presidente da SNA, fizeram um balanço da agroindústria e alertaram para os desafios que ainda travam o progresso do setor.
 
O CLIMA E A ÁGUA
 
Antônio Alvarenga (SNA) - Há muito terrorismo nas notícias de que o clima no mundo está em colapso. Existe um problema sim, que precisa ser estudado, mas não nessa escala alarmante. O Brasil tem um dos mais elevados índices de sustentabilidade no setor agrícola. O novo Código Florestal manteve níveis de preservação ambiental bastante razoáveis, tanto para os ambientalistas quanto para os produtores. Mas o processo de substituição de energia poluente por energia limpa deveria ser mais explorado. Hoje o governo está destniindo um processo de substituição de energia fóssil, poluente, por energia verde. As usinas de etanol estão em péssima situação financeira por causa dessa política de combate à inflação, por meio do subsídio ao preço da gasolina.
 
Gesmar Rosados Santos (Ipea) - Geralmente, os pontos mais alarmantes não são os divulgados. O que existe é a probabilidade de efetivação de alguns problemas climáticos. Para este ano, há cientistas dizendo que no Brasil a seca em grande parte dos estados e as chuvas no Norte poderiam ser um sinal da interferência do homem. Eu tenho um pé um pouco atrás. No agronegócio, como produzimos muito além da nossa demanda interna, e estamos exportando, creio que o cenário climático não apavora, considerando as questões físicas, econômicas e o potencial do Brasil.
 
Mauro Lopes (Ibre/FGV) - Há na agenda agro um item antigo que resolve parte deste problema de clima, que é a irrigação. Nós podemos produzir uma segunda safra, e caminhar até para a terceira safra, com a ajuda de aqüíferos fantásticos, como o Guarani, o Urucuia, o que fica embaixo do Rio Amazonas. Mas é urgente que pensemos na valorização e consideração que o Brasil tem pela água. O problema não é quem usa, mas não se colocar um preço que racione a oferta. Não adianta criarmos a Secretaria Nacional de Irrigação, fazer o Mais Irrigação, projetos, obter verbas, e esquecer o fundamental: colocar o preço na água. Senão, o abuso vai persistir.
 
Jorge Jacob (UFRRJ) - Na questão da irrigação, eu acredito em tecnologia. A geração de tecnologia no mundo agrário é a mais acelerada, só perde para a informática. Acontece que a irrigação no Brasil central, hoje, está ocorrendo em larga escala, e sem planejamento, e começa a haver problemas sérios de córregos desaparecendo.
 
"Se os americanos forem para o caminho do carro elétrico, a questão do automóvel muda completamente em todo o planeta. Temos que ser realistas com o nosso programa de biodiesel" Jorge Jacob Neto Eng. agrônomo e professor da UFRRJ
 
Jacob Neto - O biodiesel ainda tem um potencial forte. Na minha universidade, temos um projeto com a Petrobras que envolve estudos com o uso do pinhão-manso, uma planta que não tinham muita informação e que é uma fonte maravilhosa, que consome carbono. Há outras plantas que podem ser utilizadas. Há cerca de quatro meses, estava em Nova York e ouvi que o projeto americano é de que, em 30 anos, os carros sejam todos elétricos. Se os americanos forem para o caminho do carro elétrico, a questão do automóvel muda completamente em todo o planeta, com baterias altamente eficientes sendo lançadas e carros capazes de andar quilômetros. Temos que ser realistas com o nosso programa de biodiesel, pensar em outras formas de energia.
 
Alvarenga - A gente já tem o etanol, mas ele está sendo o mais sacrificado pelo governo. As usinas todas estão com grandes problemas. Penso que o carro elétrico é ainda um projeto muito futurista. Até porque, de onde viria tanta energia elétrica para abastecer os carros? Mas imagino que, com o tempo, isso vá evoluir e, por isso, nosso mix de energia tem que ser mais limpo do que o de hoje.
 
Gesmar - Energia alternativa não deveria parar, mas ser aumentada. Quando se fez o Próálcool, na década de 70, foi por causa da pressão da alta internacional do preço do petróleo, mas também uma iniciativa de se incentivar o etanol e ver onde daria. O etanol, em um primeiro momento, abasteceu quase 90% da frota, e parou no início da década de 90, porque o preço do petróleo baixou de novo. Com os carros flex, veio um aumento muito grande da frota e da produção, em especial de 2005 a 2009. Chegamos a produzir de 25 a 27 bilhões de litros, com consumo de 23 a 24 bilhões. O que mudou foi a questão do preço da gasolina; não dá para competir.
 
Jacob - Como pesquisador, posso dizer: não tem dinheiro para pesquisa nesse país, muito menos em cana-de-açúcar. Não há um montante financeiro, nem pesquisa dirigida para resolver problemas. Sem dúvida, o Brasil tem tecnologia na soja e na cana, em termos de agricultura e energia, mas que precisa ser melhorada. Essas duas culturas têm um papel fundamental, mas falta dinheiro e foco às pesquisas.
 
Alvarenga - Pesquisa é importante e muito cara. Mas dá resultado. Prova disso é a Embrapa. A produção agropecuária brasileira transformou o Cerrado praticamente improdutivo em um dos maiores celeiros do mundo. Hoje, o Brasil tem a maior tecnologia de produção de agricultura tropical. A pesquisa funciona, mas é necessário o investimento constante, com objetividade.
 
Lopes - Quando se fala em investimento para pesquisa, o Brasil está dando um trocado. Mas temos que ir à raiz do problema. O preço relativo do etanol e da gasolina susta o processo de desenvolvimento tecnológico. Nós estávamos em pleno curso do etanol de segunda geração, com domínio do ciclo de produção e a indústria de enzimas, mas quem vai produzir o etanol para vender a R$ 1 o litro? As empresas estão paradas.
 
Gesmar - O Ipea está desenvolvendo um estudo para mapear onde estão localizados os focos de pesquisa na área agrícola. Quando levantamos o número e o valor dos projetos, e quem pesquisa por local cada tipo de oleaginosa e a indústria de cana para melhorar o desempenho de energias renováveis, vemos que é espalhado, tem muita gente pesquisando, e às vezes fica difícil achar o foco. Não é tarefa fácil do Estado definir isso. Com a colaboração de pesquisadores, vamos colocar essa questão em detalhes, sem restringir às universidades.
 
"O preço relativo do etanol e da gasolina susta o processo de desenvolvimento tecnológico. Quem vai produzir o etanol para vender a R$1 o litro? As empresas estão paradas " Mauro de Rezende Lopes Pesquisador do CE A- FGV /Ibre
 
"O Ministério da Agricultura é uma pasta altamente fragilizada. E isso vem de alguns governos. O atual ministro depois de dezembro não vai ser mais ministro. Como ter continuidade?" Antônio Alvarenga Presidente da SNA
 
Alvarenga - A negociação do Plano Safra é feita pela Casa Civil; energia e cana, é com Minas e Energia; portos, com a Secretaria dos Portos; licenças ambientais, com o Meio Ambiente... As discussões passam ao largo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ele deveria participar ativamente e ter uma coordenação de tudo o que se fala sobre o setor. Mas é uma pasta altamente fragilizada. Nos últimos quatro anos, tivemos quatro ministros da Agricultura; o ministro entra, e já está saindo. O atual ministro é um produtor rural, bem intencionado, mas depois de dezembro, não será mais ministro. Como ter continuidade?
 
Lopes - Se eu pudesse propor uma mudança ao governo, seria o Ministério assumir o controle da política agrícola. Hoje a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que não é governo, está muito mais atuante do que o Ministério. Falta governança, interferem na política agrícola 16 ministérios e quatro agências... é Funai, é Anvisa...
 
Gesmar - A fragmentação do Mapa leva à sua fragilidade em várias frentes. Na questão fitossanitária, que ainda está com o Ministério, houve uma tentativa de descentralizar, mas foi provado que os municípios não tinham condições e infraestrutura de fazer as fiscalizações. Na minha opinião, o que vivemos é fruto do período pós-Constituição de 1988, que coincidiu com a grande urbanização do país. Só no próximo Censo Agropecuário é que poderemos ver para onde está indo a política agrícola, em termos de resultado desse arranjo institucional e social.
 
Lopes - A solução dos problemas agrícolas não é trivial. Cria-se um programa "Mais Muito", um factoide orçamentário de milhões e bilhões, mas não se avalia o resultado desses programas. O que não se mede, não se gerencia.
 
PERSPECTIVAS DO SETOR
 
Alvarenga - Nós temos grandes problemas e eles não são de hoje. Mas apesar de tudo, o agronegócio cresceu e é um sucesso. Porque o produtor rural, o grande e o pequeno, é um herói. Ele trabalha duro, cresce, enfrenta todos os problemas de um empreendimento, que não são poucos, tem que acompanhar a cotação do dólar, o clima, as pragas, a logística.
 
Gesmar - Está provado que, se o Brasil quiser fazer infraestrutura, faz. Estamos fazendo estádios de futebol com altíssimos custos, podemos fazer o restante. A produção agroindustrial, que responde por um quarto do PIB brasileiro, é o que temos de melhor. E a perspectiva é de que vai continuar assim, pois a demanda mundial está sinalizando para isso.
 
Jacob - Foi um erro esse país não ter investido em ferrovias, todos os governos que passaram por essa pátria que não construíram ferrovias são culpados. É por isso que nossa soja não dá mais lucro do que a americana. O que ganhamos com tecnologia nossa, perdemos no transporte. O agronegócio só vai bem porque houve um investimento em pesquisa, que é uma das mais qualificadas do planeta. Temos o maior avanço tecnológico do agronegócio do mundo. Este ano, ultrapassamos os Estados Unidos em produtividade na soja.
 
Alvarenga - Com dois anos do prejuízo que a gente tem com o escoamento da soja, dava para pagar toda a infraestrutura necessária ao país...
 
Jacob - Por falar em futuro. A agroecologia ou agricultura orgânica está dando dinheiro, é preciso que haja investimentos no país. Nos Estados Unidos, cerca de 20% do PIB agrícola vem da agricultura orgânica. Mas no Brasil, ainda é incipiente.
 
"A produção agroindustrial, que responde por um quarto do PIB brasileiro, é o que temos de melhor. E a perspectiva é de que vai continuar assim " Gesmar Rosa dos Santos Pesquisador do Ipea
 
Fonte: Brasil Econômico


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