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Para 65 porcento, mulher que mostra corpo ’merece ser atacada’

28 de março de 2014
 
Autor de estudo sobre estupros: 'Estamos em estágio pré-civilizatório'
 
Jailton de Carvalho
 
Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que 527 mil mulheres, adolescentes e crianças são estupradas por ano no país, mas só 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia. Os dados, considerados assustadores, não param por aí. Em outra pesquisa, o instituto descobriu que mais da metade da população tem a tendência de culpar as mulheres pelos estupros dos quais elas são vítimas. Um contingente ainda maior, 65% dos entrevistados, entende que mulheres que "mostram o corpo merecem ser atacadas"
 
- Trabalho com violência há 15 anos e, para mim, estes dados são estarrecedores. Não se trata de uma doença isolada. Se trata de uma doença coletiva. Podemos dizer que estamos num estágio pré-civilizatório - afirmou o diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea, Daniel Cerqueira, autor do estudo sobre a frequência de estupros .
 
Segundo ele, o número de estupros é extremamente elevado e exige uma resposta consistente do governo e da sociedade. Pelo estudo, 88,5% das vítimas da violência sexual são mulheres, 70% são ainda crianças ou adolescentes, e 51% delas são negras ou pardas. O estudo mostra ainda que 46% das vítimas têm ensino fundamental incompleto. Cerqueira chegou a estas conclusões com base em dados do Sistema de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, onde estão registrados atendimentos médicos de violência sexual.
 
- Estes números são elevados, mas se fosse feito um cruzamento entre os dados da Saúde e da Segurança Pública esse número (de estupros) seria maior ainda - afirma a secretária de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, Aparecida Gonçalves.
 
A violência não se limita ao ataque físico à mulher. Numa outra pesquisa sobre percepção da sociedade, 58% dos entrevistados disseram que "se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros" No mesmo estudo, 63% dos entrevistados disseram concordar "que casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família" Ou seja, teriam que ser resolvidos sem a interferência da polícia.
 
A cultura do estupro está muito presente na sociedade. Ainda estamos numa sociedade patriarcal afirma Natália Fontoura, uma das responsáveis pela pesquisa.
 
A mesma pesquisa informa também que para 91% da população "homem que bate em mulher tem que ir para a cadeia" Para os pesquisadores, este seria um sinal de que, apesar dos preconceitos, a sociedade estaria mudando. O estudo mostra que a tendência de responsabilizar a mulher pelo estupro é mais comum entre pessoas que professam algum tipo de religião, especialmente evangélicos. É mais comum também entre pessoas de baixa escolaridade, sobretudo das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O Ipea ouviu 3.810 pessoas entre maio e junho do ano passado em todo o país. Os pesquisadores apresentaram 25 frases populares relacionadas à violência contra a mulher para que os entrevistados respondessem se concordavam ou não.
 
O resultado foi uma coleção de preconceitos. Pelo sondagem, 54,9% dos entrevistados concordaram com a frase "tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama" Para Rafael Osório, diretor de Estudos e Políticas Sociais, para uma parcela significativa de homens, mulheres sexualmente livres não são boas companheiras. "O sexismo e as representações da mulher como subordinada à autoridade masculina na jurisdição do lar frequentemente se materializam em violências que atingem milhares de brasileiras" diz o estudo.
 
As declarações de machismo não param por aí. Aproximadamente 60% dos entrevistados concordaram total ou parcialmente com a assertiva: "uma mulher só se sente realizada quando tem filhos" Outros 78,7% endossaram a idéia de que "toda mulher sonha em se casar" Um contingente de 63,8% apoiaram a tese de que "os homens devem ser a cabeça do lar"
 
Fonte: O Globo


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