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O não que trava os transplantes

17 de março de 2014 
 
Cresce o número de negativas à captação de órgãos e tecidos de parentes com diagnóstico de morte cerebral. No DF, porém, os vetos caíram entre 2012 e 2013. Mesmo assim, em quase 40% dos casos em que a retirada era possível, o aval não foi dado
 
» ANA POMPEU
 
Enquanto a estrutura, a pesquisa e o conhecimento na área de transplantes avançam, um fator subjetivo puxa para baixo as estatísticas de doações de órgãos no Brasil. Entre 2012 e 2013, a negativa das famílias cresceu em 17 das 24 unidades da Federação que mantêm estatísticas sobre o tema com número proporcionais, e em 18 estados, quando são levados em consideração os números absolutos. Se esse ritmo continuar, o país pode não alcançar a meta de 20 doadores por 1 milhão de habitantes em 2017. Para especialistas, os grandes problemas são a falta de informações e a falta de conversas sobre o assunto no núcleo familiar. 
 
Os resultados são do último registro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). O número de doadores identificados aumentou 10%, mas a taxa de recusas passou de 42%, em 2012, para 47%, no ano passado. "Se tivéssemos mantido a mesma taxa, teríamos atingido a meta para o ano. Para este ano, temos dois trabalhos. Recuperar o crescimento e crescer o que está previsto para 2014. Não sei se será possível", comenta o presidente da entidade, Lúcio Pacheco. 
 
A questão, na visão dele, é conseguir esclarecer mitos e dúvidas da população em torno do tema. "Só se pode usar o órgão para transplante quando o paciente tem morte cerebral. E aí, ele é mantido com o coração batendo à custa de remédios, respirando por meio de aparelhos, o rim funciona se você mantém o doente na pressão adequada. Isso é feito para dar tempo de a família decidir", explica o médico. De acordo com ele, é comum que as famílias confundam morte cerebral com coma. A diferença é que, no segundo caso, o paciente tem as funções vitais em atividade, mas não mantém a consciência.
 
 
Mesmo no Distrito Federal, unidade da Federação considerada referência em muitos tipos de transplantes e que apresentou queda de 11% no número de recusas das famílias entre 2012 e 2013, o dado ainda é significativo. Dos 342 potenciais doadores identificados, 39% não se efetivaram justamente por causa da oposição dos parentes.
  
A coordenadora de Transplantes da Secretaria de Saúde, Daniela Salomão, vê a questão como um problema, mas não culpa as famílias. "É complicado atribuir a queda às famílias. É um momento de dor, angústia, conflito de informações, a vontade que às vezes não é conhecida, a credibilidade do sistema de saúde. Os pacientes de morte encefálica passam por um procedimento que é novo até mesmo para os profissionais de saúde. A população tem que entender esse processo para confiar no diagnóstico", detalha. 
 
A partir do momento em que a morte cerebral é decretada, os parentes têm poucas horas depois do diagnóstico para tomar uma decisão. "A discussão precisa ir para a mesa de jantar, para a sala de estar. As famílias não sabem que o parente quer ser doador. Se não há uma ideia pré-formada, fica muito mais difícil decidir em pouco tempo no momento da notícia da morte", concorda o presidente da ABTO, Lúcio Pacheco. "É muito duro saber que existe um tratamento totalmente custeado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas que depende da participação da sociedade", completa. Tanto para ele quanto para Daniela Salomão, essa discussão deve ocorrer com calma, antes do momento decisivo.
  
Desânimo
 
Ao mesmo tempo em que, de um lado, famílias sofrem a dor da perda de um parente, de outro, pacientes que poderiam ter a expectativa de vida prolongada por uma cirurgia permanecem em uma angustiante fila de espera, sem saber quando virá a tão esperada notícia da disponibilidade de um órgão compatível. Uma sensação que acompanha a aposentada Maria José Batista de Oliveira, 66 anos, há pouco mais de um ano. Três anos atrás, ela recebeu o diagnóstico da doença do rim policístico e, desde então, passa por sessões de hemodiálise. Não entrou na fila da doação por desânimo, depois dos relatos ouvidos. "Tinha gente esperando há 12 anos. Aí eu desisti", conta.
 
Fonte: Correio Braziliense


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