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Alternativas às cobaias vivas

03 de fevereiro de 2014
 
Células criadas em laboratório, pele reconstituída e testes via computador são algumas metodologias usadas por cientistas para substituir a pesquisa com animais 
 
Juliana Cipriani
 
 
Belo Horizonte -- As dificuldades são muitas, e o investimento é pouco, segundo cientistas, mas existe horizonte no Brasil para as pesquisas com métodos alternativos ao uso de cobaias vivas. Ainda em baixo número, grupos de pesquisadores desenvolvem testes de medicamentos usando sistemas in vitro, peles reconstituídas, estratégias computadorizadas e até humanos, esses últimos em estágios mais avançados e seguros de avaliação de reações. As metodologias não eliminam totalmente o uso de animais de laboratório, mas são um caminho em busca do que a ciência chama de os três erres da experimentação animal: replace, reduce e refine (substituição, redução e refinamento).
 
 
Dados disponíveis no site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam alguns exemplos do que já tem sido praticado no Brasil, apesar de o país ainda não ter um órgão para validar as pesquisas alternativas. Foi na Fiocruz, em 1997, que a bióloga Cátia Inês Costa começou a substituir a forma tradicional de pesquisa para avaliar a potência das vacinas contra a hepatite B. A cientista substituiu aos poucos os testes de inoculação da vacina em camundongos por ensaios in vitro, até que, em 2002, relatou não precisar mais de animais. Segundo a pesquisadora, com isso, evitou-se o sacrifício de cerca de 4 mil camundongos por ano. 
 
 
Há quase 10 anos, um grupo do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) adotou como prioridade estudar essas alternativas. Uma das descobertas é que o sangue humano conservado em meios específicos também serve para detectar a contaminação de medicamentos por vírus e substâncias tóxicas, o que sugere a dispensa de testes em coelhos no futuro. Quem atesta é o biólogo pesquisador do INCQS/Fiocruz Octavio Presgrave, um dos principais estudiosos da área no Brasil.
  
 
No Laboratório de Biologia da Pele da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), as cientistas Silvya Stuchi e Silvia Berlanga se dedicam há pelo menos uma década ao desenvolvimento de modelos in vitro de pele artificial para estudar a segurança de fármacos e cosméticos. As variações permitem o estudo da fisiopatologia do melanoma cutâneo, da pele com colágeno alterado, da pele de pacientes diabéticos, da epiderme imunocompetente e de fotoprotetores. 
 
 
A ideia dos modelos biomédicos, segundo Berlanga, é que, apesar de serem usadas células isoladas, formando uma monocamada, a pele reconstituída tem vários componentes, fazendo com que se assemelhe mais à célula humana. "Temos modelos de pele dermoequivalente para verificar a eficácia de tratamento para melanoma (câncer de pele). A gente faz tudo in vitro, sem uso de animal, desenvolvemos o tumor e avaliamos substâncias quimioterápicas para esse tipo de câncer. Pode-se fazer pele também para estudar componentes de reações de sensibilização cutânea", afirma a cientista.
 
 
É possível ainda estudar substâncias de fotoproteção solar ou pesquisar a toxidade de substâncias aplicadas na pele. A pesquisadora esclarece que é possível conhecer de outra forma como as substâncias vão atuar, mas, em algum momento, será preciso avaliar o produto em humanos, se forem cosméticos, ou em animais, se fármacos. "Os modelos in vitro conseguem eliminar etapas, mas é preciso continuar trabalhando com animais. A substituição hoje não é total. Isso a opinião pública tem de saber", afirma Silvia Berlanga. Segundo ela, esses testes são necessários para entender como funcionam as substâncias nos organismos inteiros.
 
 
Roda sem-fim 
 
 
O professor-chefe do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carlos Roberto Zanetti, trabalhou nos últimos 12 anos com métodos alternativos, mas descobriu que, até para isso, precisava usar animais. "Aí, percebi que a roda não tem fim e parei", conta. Antes de desistir, o cientista conseguiu adaptar uma técnica de cultura celular para substituir os camundongos nas pesquisas de diagnóstico de raiva. Isso é feito quando alguém é agredido por um mamífero e ele está disponível. Nesse caso, injeta-se uma mistura no cérebro do camundongo para ver se ele vai desenvolver a doença. Zanetti descobriu que é possível inocular o conteúdo em células. 
 
 
"São células isoladas adquiridas comercialmente. Não precisa mais matar um animal para isso, elas estão disponíveis para compra nos bancos de células da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e há ainda o catálogo americano de culturas celulares (ATCC). Muitos laboratórios não fazem por acomodação, já têm um biotério e acham mais fácil manter o camundongo do que fazer cultivo de célula", diz. Além de não sacrificar uma vida, Zanetti ressalta que, nas células, o resultado é possível em 48 horas, enquanto no camundongo é preciso esperar 72 horas.
 
 
Três perguntas para 
 
 
Carlos Roberto Zanetti, professor-chefe do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC O que é possível fazer para reduzir as pesquisas com animais? 
 
 
Vejo meu papel como professor o de introduzir essa questão na formação dos cientistas. Quando eles estão trabalhando determinado problema com bichos, que procurem outra forma. Esse dogma de que tem de usar animais está envolvido com a indústria farmacêutica, que, como todos sabem, não é nenhum primor de ética. Aqui, na universidade, falo disso. 
 
 
Há espaço para desenvolver alternativas no Brasil? É um movimento muito inicial ainda. O primeiro congresso de métodos alternativos no país foi em Niterói (RJ). Lá, os trabalhos eram simples e chamou a atenção o fato de isso estar despontando no Brasil. Tivemos exposição de empresas alemãs investindo nesse tipo de tecnologia. Na toxicologia, há um avanço maior porque a indústria não quer associar seu nome a coisas ruins. As de cosméticos, principalmente, abandonam (o uso de animais), pois está havendo um movimento mundial para proibir esse método. Os que controlam a pesquisa clássica não enxergam ainda que poderiam ser vanguardistas. Infelizmente, a ciência é dominada por mentes rígidas. 
 
 
O conceito nas universidades precisa ser mudado? 
 
 
Vejo que, para os pesquisadores, é uma questão difícil. Eles aprenderam a vida inteira assim. Como professor, acho que é preciso semear uma ideia nova. Em um dia, era impossível pensar que o homem podia ir à Lua. Se hoje ele tem um cérebro que lhe permite ir, por que não pensar em fazer pesquisa de outra forma? 
 
 
Alguns caminhos 
 
 
» Técnicas físico-químicas: algumas substâncias que só podiam ser testadas em animais são ensaiadas com métodos químicos. O estudo de potência de insulina, por exemplo, que era testado em camundongos e coelhos, já pode usar cromatografia líquida de alta resolução (HPLC) » Modelos matemáticos ou computacionais: usa-se um banco de dados baseado em resultados de estudos já feitos que pode predizer reações do organismo » Organismos inferiores: essa prática é polêmica, pois propõe o uso de pulgas d água e larvas de camarão na substituição de animais
  
 
» Estágios iniciais de espécies protegidas: um exemplo são os testes em ovos de galinha, nos quais se usa o estágio embrionário. Pode substituir o teste de irritação ocular em coelhos » Em humanos: não se destina a estudar a toxidade, mas a ausência dela. Os testes só são feitos depois de as substâncias passarem por uma bateria de experimentos, envolvendo os métodos in vitro e animais. É uma questão ainda polêmica » Pele reconstituída: usa fragmentos de pele humana para teste de cosméticos ou fármacos Fonte: Estudo sobre alternativas ao uso de animal, de Octavio Presgrave
 
Fonte: Correio Braziliense


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