Apresentação

A Revista Domingueira da Saúde é uma publicação semanal do Instituto de Direito Sanitário - IDISA em homenagem ao Gilson Carvalho, o idealizador e editor durante mais de 15 anos da Domingueira da Saúde na qual encaminhava a mais de 10 mil pessoas informações e comentários a respeito do Sistema Único de Saúde e em especial de seu funcionamento e financiamento. Com a sua morte, o IDISA, do qual ele foi fundador e se manteve filiado durante toda a sua existência, com intensa participação, passou a cuidar da Domingueira hoje com mais de 15 mil leitores e agora passa a ter o formato de uma Revista virtual. A Revista Domingueira continuará o propósito inicial de Gilson Carvalho de manter todos informados a respeito do funcionamento e financiamento e outros temas da saúde pública brasileira.

Editores Chefes
Áquilas Mendes
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Lenir Santos

Conselho Editorial
Élida Graziane Pinto
Marcia Scatolin
Nelson Rodrigues dos Santos
Thiago Lopes Cardoso campos
Valéria Alpino Bigonha Salgado

ISSN 2525-8583



Domingueira nº 12 - Abril 2024

Caminhando para a igualdade de gêneros na saúde, juntos!

Por Carmino de Souza


Se a pandemia nos ensinou alguma coisa, é que o bem-estar de nenhuma pessoa está garantido até que o bem-estar de todos esteja garantido. Em tempos de pandemia e mais além, a liderança inclusiva e diversificada – a todos os níveis – é fundamental. A realidade é que os homens ocupam a maioria dos cargos de liderança na saúde em todo o mundo e a mudança não acontecerá a menos que os homens também usem o seu poder para efetuar esta mudança.

As estruturas sociais e as posições de liderança continuam a ser dominadas por aqueles que ocupam posições de poder e privilégio e a divisão de gênero é muitas vezes vista como um jogo de soma zero. Apesar de os homens representarem apenas 30% da força de trabalho da saúde, eles ocupam 75% dos cargos de liderança sênior e impressionantes 95% dos cargos de CEO ou chefes de agência.

Tanto homens como mulheres têm a ganhar quando lideram de forma colaborativa e simultânea. Uma abordagem orientada para a solidariedade pode aproximar-nos de um mundo mais igualitário em termos de gênero.

É imperativo que os homens tenham alguma participação no jogo enquanto lutamos juntos pela igualdade de gênero. Muitos aliados do sexo masculino (homens que se associam, cooperam e apoiam as mulheres) chegaram ao local de aliado porque sentiram o gostinho da profunda injustiça que as mulheres muitas vezes vivenciam. Eles valorizaram a experiência de uma orientanda, parceira, colaboradora, esposa, filha, amiga e tiveram que testemunhá-las sendo privadas de crédito, oportunidade e patrimônio legitimamente merecidos. Isso os encheu da mesma angústia que as mulheres experimentam. Eles se colocaram no lugar daquelas mulheres, ainda que brevemente, e foi esclarecedor.

Então, como continuamos a trazer homens e mulheres à solidariedade? Algumas reflexões para os líderes masculinos enquanto procuram oportunidades de aliados. Se você é um líder masculino júnior ou em meio de carreira e ainda está construindo e estabelecendo sua credibilidade, considere fazer parceria com mulheres líderes em ascensão semelhante para projetar e apresentar ideias inovadoras e impactantes em conjunto. Ao colaborar, ambos têm a ganhar ao trazer para a mesa uma diversidade de experiências vividas e abordagens.

Reconheça que o aliado começa em casa. Você não pode ser um colega solidário se não for um parceiro, cônjuge, pai, irmão ou amigo solidário. Praticar a aliança em todos os seus espaços aprofundará sua empatia e capacidade de se colocar no lugar dos outros.

Esta prática é crítica não só para a igualdade de gênero, mas também para o avanço da saúde global. Se você ocupa um cargo sênior, como pode dar o exemplo e criar mais espaço para mulheres líderes em ascensão? A seguir estão algumas das ações importantes de líderes masculinos que mostram exatamente o que significa ser um aliado masculino.

O Global Health Matters do Fogarty International Center defende que “além de garantir que as mulheres tenham oportunidades iguais de desenvolver os seus conhecimentos, de expressar a sua opinião e de influenciar a direção da investigação, possam também trabalhar para garantir que tenham as oportunidades necessárias para progredir na carreira e desempenhar um papel mais equitativo na saúde global e de liderança”.

Algumas reflexões para as mulheres líderes à medida que cultivam aliados masculinos. Lutar esta batalha sozinha é exaustivo. Em minha opinião, os aliados masculinos são fundamentais para “mover a agulha”.

Uma abordagem “nós contra eles” só irá prejudicar a todos. Talvez tenham que ser intencionais ao identificar o potencial de aliado em homens que talvez nem sequer o vejam em si mesmos ou naqueles que estão em cima do muro e ajudar a orientá-los e motivá-los durante a jornada para serem parceiros mais eficazes.

A seguir estão algumas sugestões a serem consideradas:

1- Encontre, um orientador masculino que esteja totalmente investido em seu sucesso, celebrando suas realizações e sentindo a sua angústia. Isto exigirá um mapeamento claro das partes interessadas, seguido de uma escolha cuidadosa e ponderada. Não escolha apenas alguém apenas de posição superior e influente, mas alguém que esteja realmente ouvindo e que preencha sua lacuna de habilidades e experiências.

2- Encontre um colega com quem você se conecte, aproveite o brainstorming e sinta um relacionamento de iguais. Aproveite a combinação de suas habilidades complementares para inovar e cocriar.

3- Tente construir espaços seguros que também incluam homens e onde você possa compartilhar e falar sobre seus objetivos, desafios e aspirações.

Todos ganham quando indivíduos com um conjunto diversificado de identidades, experiências, competências, conhecimentos e educação unirem o seu poder, lutarem uns pelos outros e, juntos, criarem um mundo com igualdade de gênero que beneficie a todos.

As mulheres trazem para a mesa habilidades únicas e experiências vividas, assim como os homens. Um próximo passo crítico é os homens coloquem a sua posição no jogo e reconheçam que o verdadeiro sucesso reside na liderança baseada na solidariedade.


Publicado em Hora Campinas


Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan e Diretor Científico da Associação Brasileira de hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).




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